“É preciso muitos anos de investimentos para diminuir as desigualdades do Recife, reduzir o déficit de infraestrutura, mas fizemos muitas coisas” 
Da Folha de Pernambuco
Candidato à reeleição, o prefeito Geraldo Julio sabe que tem muitos desafios. Em especial, cumprir o que prometeu na campanha de 2012. Promessas que, devido à crise econômica nacional, ainda não decolaram totalmente. Mas Geraldo garante que, mesmo vivendo o pior cenário político das últimas décadas, com queda de arrecadação e cortes em diversas áreas, a PCR investiu R$ 300 milhões. Aporte, segundo o gestor, que fez com que o Recife tivesse um ano menos atribulado que alguns dos grandes – e ricos – estados brasileiros. Cauteloso nas declarações políticas, evitou fazer críticas aos adversários locais. E mostrou preocupação com a guerra contra o Aedes aegypti. No âmbito da gestão, entretanto, foi enfático: na entrevista concedida à Folha, prometeu que vai entregar mil apartamentos populares até o final de 2016; garantiu concluir o Hospital da Mulher e afirmou, com convicção, que sua gestão melhorou a vida dos recifenses. Confira.

Em 2016, o senhor terá que defender sua reeleição. O senhor considera que deixou a gestão melhor que o PT?
Não tenho dúvida que a cidade melhorou nos últimos três anos pelo número de realizações e a forma que temos trabalhado na Cidade. O Recife não tinha creche-escola, não tinha tablet para os alunos, não tinha Upinha, não tinha robótica nas escolas, não tinha Prouni, passe-livre, Academia Recife, Via Mangue, Hospital da mulher, Compaz, faixa azul, Recife Antigo de Coração, ciclofaixa. Todas essas ações mexem na qualidade de vida das pessoas. É preciso muitos anos de investimentos para
diminuir as desigualdades do Recife e para reduzir o deficit de infraestrutura, mas fizemos muitas coisas.

Os seus críticos reclamam que o senhor faz um governo voltado para a classe média e esquece a população mais pobre.
Tenho certeza que nossa gestão tem um olhar para aqueles que mais precisam. Quando a gente fala no Passe Livre, a gente fala para aqueles que mais precisam. Quando a gente fala no Prouni, a gente fala daqueles que mais precisam. Quando reformamos 76 escadarias foram para quem mais precisa. Quando a gente faz a Faixa Azul, fazemos para quem mais precisa. Quando a gente organizou Água Fria, Beberibe, Afogados, Córrego da Areia e Nova Descoberta, a gente está falando de quem mais precisa. Então, tem um conjunto imenso de ações que diz respeito àquela parcela da população que precisa de uma atenção maior. Estamos entregando, hoje, apartamentos com dignidade. A central do Bolsa Família oferece dignidade para a população mais vulnerável. Não interessa se fulano ou beltrano disse assim ou assado, o que interessa é nossa relação com a população do Recife.

O senhor prometeu uma série de coisas na campanha: cinco Compaz, 20 Upinhas, revitalização das calçadas, um total de mil câmeras (em parceria com o Governo do Estado) para auxiliar na segurança, entre outras coisas. Dizia que sabia fazer. Passados três anos de mandato, os números não chegam perto do prometido. Houve um superdimensionamento em relação ao que a PCR poderia fazer?
O ano de 2015 foi impactado pela crise econômica, sem dúvida. Claro que podíamos ter feito mais coisa esse ano, mas nós investimos muito, mais de R$ 300 milhões em 2015. Investimos esse valor em um ano que os Estados mais ricos do País não conseguem nem pagar salário. Conseguimos investir mais de R$ 300 milhões, o que é o dobro do que a cidade investia nos bons anos da situação econômica. Mas a gente ainda tem a expectativa de cumprir tudo o que foi acordado com a população ainda em 2016. A gente continua trabalhando para cumprir todas (as promessas). Nossa determinação e esforço são para cumprir todas elas. Tivemos uma autorização (da Cofiex) para pegar o empréstimo como Banco Mundial e a gente espera conseguir cumprir tudo. Essa é a nossa determinação. Temos um ano de governo e queremos utilizar este ano para concluir o que estava para ser entregue.

O senhor vem ressaltando que a crise nacional afetou sua gestão. Como e com que intensidade?
A crise afeta muito duramente. É uma crise política sem precedentes, uma instabilidade política que nem projeções podem estabelecer. É uma crise econômica que nenhum de nós já viveu. A última vez que o Brasil teve dois anos seguidos de PIB negativo foi em 1930 e 1931. Vamos ter, praticamente, três anos consecutivos e isso impacta fortemente nossa Cidade. Isso tem um impacto na arrecadação e isso acontece no País inteiro. Tivemos queda de arrecadação e, por isso, nós trabalhamos mais ainda esse ano focando no que precisava ser entregue à população, principalmente, de baixa renda. As receitas levaram uma pancada muito forte do que é transferido da União, do que é transferido do Estado e arrecadado pela prefeitura. Tudo está tendo um crescimento menor do que a inflação. Portanto, tivemos uma queda real de receita. Em função disso, criamos uma série de alternativas, cortes de despesa, mas tudo que fizemos foi com o objetivo de manter transformação da cidade e os serviços à população. Por isso, conseguimos em um ano duro como esse que vemos no Brasil inteiro entregar creche, encosta e Upinha.

Qual a responsabilidade do Governo Dilma nessa crise?
A responsabilidade é muito grande porque eu acho que o Brasil errou e vem errando não só em 2015, mas há cinco ou seis anos. Vivemos o período de redemocratização, estabilidade econômica e inclusão baseado no crescimento pelo consumo. Esse ciclo se esgotou em 2008 e 2009. São cinco ou seis anos que o Brasil deveria ter mudado feito mais investimento em infraestrutura, educação, aproveitar o bônus demográfico que vivemos e criar um novo ciclo de crescimento e desenvolvimento que não se baseia apenas no consumo. É por isso que a gente rompeu há três anos. Por isso, rompemos porque discordamos da forma como o País vem sendo conduzido tanto na economia como na política. Por isso, lançamos uma candidatura presidencial, mantivemos candidatura mesmo com o acidente de Eduardo e não votamos nesse governo no segundo turno.

Esses erros de condução do governo cometidos pela presidente Dilma fazem com que ela tenha perdido a credibilidade e as condições de governar o País?
Ela tem muita dificuldade de governar. Nós vimos um ano de 2015 perdido na retomada do crescimento da economia porque as medidas que precisavam ser implantada não foram. O Governo Federal perdeu o ano do ponto de vista de fazer o País retomar a curva do crescimento, justamente, por não ter a governabilidade. É um governo que não consegue dialogar, não consegue implantar bem a política e não consegue fazer as mudanças que precisam ser feitas na economia. Então, ela tem muita dificuldade. Esperamos que 2016 resolva as questões políticas para que o País volte a ser governado de forma eficiente. O Governo precisa cumprir sua responsabilidade de conduzir a economia do País e fazer a economia crescer.

Quando a Executiva Nacional do PSB se reunir na volta do recesso, o senhor vai ser contra ou a favor do impeachment de Dilma?
Eu acho que é importante diferenciar. Sou contra esse governo, rompi com esse governo há três anos. Nós tivemos uma candidatura a presidente da República, não votamos nela no primeiro turno, não votamos nela no segundo turno, nós decidimos ser oposição e não participar do governo dela. Então, somos contra esse governo e não achamos que esse governo faz bem ao País. Causa desemprego, inflação, coloca em risco as políticas sociais. Mas o processo de impeachment é outra coisa. É preciso ver se ela cometeu um crime de responsabilidade. Essa apuração precisa acontecer. Ser é a favor ou contra o impeachment não tem nada a ver com ser contra ou a favor do governo. Em relação ao impeachment, ele terá um processo que passará pela comissão, Senado. Só há denúncia. É preciso a apuração e o processo que justifique o afastamento do governante. Isso não é ficar em cima do muro. Somos contra o governo, mas o processo de impeachment precisa ser instruído para a gente ter uma conclusão sobre ele.

O senhor vê em Michel Temer mais condições de governar o País?
Eu não estive com Michel Temer e eu acho que todas as opções colocadas não inspiraram um sentimento de confiança da população. Nem Dilma Rousseff, nem o vice-presidente, nem o presidente da Câmara. A linha sucessória que está colocada não está inspirando a população. Nenhum dos três conseguiu demonstrar que consegue pegar às rédeas e fazer o País voltar a crescer.

O nome de Jarbas Vasconcelos é cogitado para a presidência da Câmara Federal e já foi apontado como um adversário do senhor em 2016. Se ele se elege presidente da Casa, facilitava a vida do senhor.
Eu não trabalho em função das eleições de 2016, mas das respostas que o Brasil precisa em momento de crise tão dura como essa. Essa é minha prioridade. Mas sobre Jarbas, ele é um quadro de muito respeito, tem um respeito grande da população de Pernambuco, ele votou em mim em 2012, sou muito grato ao apoio que tive dele em 2012 e acho que não há como comparar Eduardo Cunha e Jarbas. É incomparável. Jarbas é um quadro que detém o respeito não só da população, mas da classe política.

Houve rumores no decorrer do ano que a relação do senhor com Jarbas Vasconcelos estaria estremecida. Como está sua relação com Jarbas?
Minha relação com Jarbas permanece muito boa.

Com a morte de Eduardo vocês perderam o principal projeto nacional até então. O senhor vê algum outro nome surgindo para essa disputa? Há especulações de uma articulação puxada pelo senhor e por Paulo Câmara para trazer o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Acho cedo para definir para 2018. Até porque, 2016 é um ano que será muito importante para o PSB. Vamos enfrentar eleições no Brasil inteiro. O PSB cresceu. Foi o partido que mais cresceu nas eleições de 2010, 2012, 2008, em 2014, mesmo tendo o acidente e perdendo Eduardo no meio da campanha, elegemos três governadores e muitos senadores.Temos uma grande responsabilidade de fazer uma eleição em 2016 na qual o partido cresça e eleja prefeitos de capitais e cidades importantes. O planejamento agora está todo voltado para 2016.

O senhor acredita que o PSDB pode estar aliado ao governador Paulo Câmara e estar na oposição ao seu governo nas eleições de 2016?
Não é meu foco nesse momento a eleição de 2016. O Brasil vive um momento duro demais para ter como foco as eleições de 2016. Meu foco é o enfrentamento à crise, na gestão, controle das despesas, prestação de serviços e naquilo que é importante para a população. O povo vive dificuldades e minha energia vai toda para isso. A própria lei colocou as eleições de 2016 para frente. Então, na hora certa, vamos cuidar da eleição com a dedicação certa para dar ao assunto, mas nosso embate agora é o da crise.

Mas na hora da discussão para formar a sua chapa para a disputa pela Prefeitura, o senhor vai procurar os partidos aliados ao governador Paulo Câmara para apoiá-lo, não vai?
É natural que, quando se vai disputar uma eleição, se procure todos os partidos que estão atuando e que têm relação com nossas ideias e propósitos.

A área de habitação é muito questionada: Recife fecha 2015 com um déficit habitacional que ultrapassa 80 mil moradias e vários conjuntos prometidos seguem com obras paradas. Há recursos garantidos para mudar esta realidade em 2016?
Recebemos a aprovação de um empréstimo junto ao Banco Mundial, uma notícia muita boa a que aguardávamos desde fevereiro de 2013. São US$ 220 milhões, o que representa algo em torno de R$ 900 milhões. Esse planejamento foca em um padrão de investimentos altos, que, certamente, inclui a área de habitação. Não houve agilidade no Governo Federal para liberação de recursos, o que impediu que pudéssemos avançar mais. Já entregamos quatro conjuntos habitacionais nesta gestão e vamos fazer mais.

Existe alguma projeção para entrega de novas moradias?
Até dezembro de 2016 vamos deixar prontos mil novos apartamentos, beneficiando famílias de bairros como Beberibe e São José, por exemplo. Os conjuntos parados serão retomados ainda neste primeiro semestre. A diferença é que passamos a focar mais no padrão de qualidade. Muitas habitações, no passado, eram entregues sem piso, reboco nas paredes, portas pintadas e outros detalhes que causavam frustração. Estamos lidando com famílias em condição de vulnerabilidade, que saíram de favelas e acabavam não encontrando nestas casas a transformação de vida esperada. Vamos entregar o melhor.

Como a prefeitura pretende articular a rede de atendimento à microcefalia no Recife. A chegada do Hospital da Mulher pode auxiliar neste cenário?
As obras serão concluídas agora em dezembro, faltando apenas a instalação de equipamentos e a contratação de pessoal. Após estudos, vamos implantar dentro do hospital uma unidade de atendimento específica para tratar deste tema. Eu nomeei, recentemente, oito profissionais. São dois neuropediatras, dois terapeutas ocupacionais, dois fisioterapeutas e dois fonoaudiólogos. Eles vão coordenar na rede a assistência geral do sistema de saúde para este caso. A ideia é amparar as mães, os bebês e todos os familiares. A chegada do equipamento neste momento é muito importante. Nosso esforço é para entrega-lo no já primeiro semestre.

O Recife está preparado para lidar com o Aedes aegypti em 2016?
Fui ao Governo Federal e pedi R$ 29 milhões para contratar mais 300 agentes de endemias, somando aos 600 já existentes. Até agora não houve nenhum sinal de liberação deste recurso. O Brasil conviveu com o mosquito durante 35 anos, tendo registros sempre altos no número de casos. Falava-se apenas em dengue, uma doença vista numa esfera muito menor. Agora estamos lidando também com zika e chicungunya. É algo que requer de nós um combate muito maior. No Recife, a cada dez focos do mosquito, oito estão em águas separadas para o consumo. Embora se fale muito em pneus e garrafas pets no quintal, o grande problema está nas caixas sem tampa, baldes e demais reservatórios. Vamos agir incisivamente neste sentido, contando com o apoio da população.

O secretário Camilo Simões (Turismo e Lazer) mandou a mulher grávida para Portugal para se proteger da microcefalia. Uma irmã dele, na mesma situação, também mudou de País. Os casos de má formação têm preocupado todas as mulheres grávidas. Para quem não pode viajar, o que o senhor aconselha?
Eu sei (sobre as viagens)… As próprias autoridades médicas têm aconselhado a população a adiar a gestação. Contudo, quando isto não é possível, elas precisam se apegar aos instrumentos que estão ao seu alcance. Têm que colocar o repelente, instalar tela, utilizar roupas mais longas e estimular a família e os vizinhos a cuidar da casa para eliminar os focos. É algo conjunto. A busca por orientação de especialistas continua sendo primordial. Além do trabalho árduo que estamos fazendo nas ruas, este é o caminho que a população precisa adotar neste momento.

Sobre as bicicletas, o Plano Diretor Cicloviário previa pelo menos 90 km no Recife. Pouco disso saiu do papel. Como fica em 2016?
Fizemos seis ciclovias permanentes e temos mais quatro com projetos já quase prontos para serem entregues até o fim do próximo ano. A ciclovia da Antônio Falcão é a primeira já dentro deste plano, que é metropolitano. O papel do município é promover as interligações. Estamos fazendo na Via Mangue, que vai se interligar a esta, chegando até a Mascarenhas de Moraes. Os olhos estão bem abertos sobre as bicicletas. Hoje temos mais de 700 bikes de aluguel no Recife, com 70 pontos para o empréstimo. A Zona 30, com a redução da velocidade, também é uma ferramenta que ajuda neste cenário. Temos estimulado o uso, não apenas aos domingos, mas dando ferramentas para que as pessoas também possam utilizar durante toda a semana.

O Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) aprovou na última terça-feira, dia 22, o Projeto Novo Recife. Apesar de o questionamento ao leilão ter sido derrubado pela Justiça, não seria prudente aguardar a definição para, só então, voltar a tratar do assunto?
A questão judicial diz respeito ao empreendedor e ao questionamento que está sendo feito na Justiça. Se a implantação do empreendimento corre um risco judicial, isso diz respeito ao empreendedor. Se ele fez a implantação do projeto e ele está sofrendo um processo judicial, isso diz respeito a ele. Estamos fazendo a aprovação de um projeto que respeita uma legislação que foi feita, sem dúvida nenhuma, da maneira mais democrática da sua história. Não tenho dúvida que não teve outra lei que tenha passado por tanto debate como a gente fez na criação dessa lei que atende muito do que foi proposto pelos urbanistas da cidade. O conteúdo dessa lei é de parâmetros modernos que foram contemplados nesse debate e na lei. Então, estamos muito seguros da lei que aprovamos e do projeto. Estamos seguros do projeto que fizemos para a cidade. Agora, se esse projeto tem algum tipo de insegurança na propriedade do terreno, isso diz respeito ao empreendedor.