“O senador Aécio Neves (PSDB-MG) conclamou semana passada, da tribuna do Senado, toda a oposição a se unir para promover um “choque de realidade” no país. A tarefa se revela ambiciosa diante do estado em que se encontram os principais partidos oposicionistas, PSDB e DEM."
Mais do que superar crises internas e o distanciamento entre eles, tucanos e “demos” avaliam que precisam renovar não só o discurso, mas a forma de agir. O diagnóstico é que o estilo discreto e cauteloso da presidente Dilma Rousseff desarmou a oposição. Após três meses de gestão, líderes de PSDB e DEM concluíram que a fórmula usada pela oposição no governo Lula não surtirá efeito com a sua sucessora.
Com o ex-presidente, as duas legendas se acostumaram a fazer uma oposição mais reativa do que ativa, surfando basicamente nos discursos polêmicos de Lula. Ele tinha uma agenda de eventos intensa, aparecendo em público quase diariamente, o que propiciava aos oposicionistas pautas suficientes para fazer o enfrentamento com o governo.
Com Dilma, a fonte secou. As poucas aparições públicas e os discursos comedidos e sem improviso, que estão virando a marca da presidente, reduziram a voz da oposição. Tida como um trator quando ministra, Dilma não mudou a essência de seu estilo. Mas a dura campanha presidencial e a vitória nas urnas, com a formação de uma base aliada ainda maior que a de Lula, lhe deram uma combinação de traquejo e segurança política.
Poucos nomes no meio político, sobretudo na oposição, imaginavam que Dilma seria capaz de demonstrar tal desenvoltura — pelo menos tão cedo. “Ela adotou discrição, o que dificulta o trabalho da oposição e funciona como uma blindagem para a presidente. O Lula dava mais ganchos para a oposição”, reconhece o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).
“Lula era 24 horas por dia no palanque. Já a Dilma tem um perfil menos eleitoreiro, o que faz com que esse embate da oposição com o governo tenha que mudar de características”, reforça o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).
O presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), também avalia que a atuação de Dilma — “mais discreta, reservada, que não se vulgariza, e não apela para a demagogia” — tem atrapalhado a atuação da oposição. Segundo Guerra, PSDB e DEM não estão esfacelados, mas diminuídos. “Agora temos que lidar com uma presidente que fala pouco. O Lula adubava nosso discurso.”
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