terça-feira, 23 de junho de 2015

Burocratizaram nosso São João.


Em tempos de outrora, mas não a muito tempo, as festividades juninas eram democráticas. Jovens reuniam-se trinta, sessenta dias antes da comemoração para os famosos ensaios de quadrilhas. Não havia vestimentas nestes ensaios... Havia brincadeiras, paqueras, risos e muita música.


Tocavam nas “radiolas” Phillips, os vinis de músicas Juninas que se perpetuam até dias de hoje. "Olha pro céu meu amor"...  "O balão vai subindo"...  Entre outras canções apropriadas ao momento, a idade e ao respeito com os mais velhos, estando eles presentes ou não. Eram tempos negros para nossa política nacional, mas isso pouco importava aos pré e adolescentes que ali se divertiam.

Durante as festividades de São João, democraticamente distribuíam-se fogueiras em quase a totalidade das casas e as portas estavam abertas. Pais e avós sentados nos terraços ou nas calçadas, observavam as brincadeiras  dos jovens, sempre maliciosos, como sempre coube a efervescente adolescência. “Alavantu...  Anarriê...”  Gritavam os puxadores das quadrilhas onde todos participavam animadamente. Acredite... Isso não é saudosismo.

Hoje burocratizaram nosso São João. Virou mais um “business” onde o lucro sobrepõe-se ao cultural e as músicas tradicionais deram lugar aos “espetáculos estrangeiristas” como diria Ariano Suassuna , onde Chitãozinho e Xororó ocupam o lugar de nossas raízes mais sólidas e nossas quadrilhas viraram “shows” aos moldes de desfiles carnavalescos.

Elitizaram as brincadeiras juninas impondo desta forma que quem não pode se transportar para cidades distantes como Gravatá, Caruaru ou Campina Grande perde a oportunidade de deliciar-se de uma das  mais tradicionais festas   nordestinas. Atrações mirabolantes e midiáticas estão em vigor... E o povo, as pessoas, os jovens... Apenas assistem as apresentações.

Burocratizaram nosso São João... Tornaram-no um negócio... E tudo isso em função do lucro fácil para poucos.


“Alavantu” companheiros... Que a vida não tem ensaio.

Magno Dantas/blogueiro

Um comentário:

  1. Caro Magno,
    Realmente, a vida não tem ensaio. (Mas muita gente não pensa assim e, aí, "quebra" a cara.) Felicitações pelo belo e realista texto do seu artigo.

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