QUEM REALMENTE PRECISA DE AJUDA?

Para Kaizô Beltrão, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), o fato de até a Venezuela estar à frente do Brasil levanta dúvidas sobre o quanto os dados são realmente fidedignos da crise que assola o país vizinho, onde 3,7 milhões de pessoas já imigraram. “Os números do IDH devem estar defasados, mas é importante lembrar que, quando o preço do petróleo estava bastante elevado, algumas medidas sociais adotadas quando o dinheiro sobrava para o governo, como vacinação, podem ainda estarem surtindo algum efeito”, ponderou. “Os indicadores são relativos. Daqui para frente, o Brasil, a Argentina e a Venezuela ainda podem cair mais nos próximos anos se outros países melhorarem bem mais”, destacou.
“Esse índice não muda radicalmente de um ano para outro, tanto o padrão educacional quanto a esperança ao nascer. Mas uma parte dessa estagnação é resultado da recessão, porque a renda per capta caiu e, se não houvesse esse crescimento pífio próximo de zero no ano passado, possivelmente, o país teria melhorado de posição”, avaliou o economista Simão David Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele lembrou que a renda média do brasileiro caiu 9% no auge da crise, em 2016, e, como o país cresceu 1% no ano passado e deverá crescer 1,5% este ano, “a renda per capita está 7% a 7,5% menor do que a de 2014”.
O IDH mede o progresso dos países em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: saúde, educação e renda. Quanto mais o índice ficar próximo de 1,0, maior o nível de desenvolvimento de cada economia pesquisada.
Conforme os dados do estudo do Pnud, o Brasil avançou levemente na expectativa de vida de 75,5 anos para 75,7 anos entre 2016 e 2017, mas manteve a media de anos de estudo estável em 7,8 anos no mesmo período. A renda anual per capita medida pelo poder de paridade de compra (ppp) passou de US$ 13.730, em 2016, para US$ 13.755 , em 2017, mas ainda ficou abaixo dos US$ 14.350 de 2015. Noruega e Suíça lideram o ranking dos 189 países no levantamento deste ano, com 0,953 e 0,944, respectivamente. Na lanterna está o Níger, com índice de 0,354.
O coordenador da área de pessoas prosperidade do PNUD, Cristiano Prado, reconheceu que, pela pesquisa, a desigualdade entre os homens e mulheres continua elevada no Brasil, em particular, na questão da renda. “AS mulheres possuem expectativa de vida e mais anos de escolaridade do que os homens, mas continuam com renda menor”, lamentou o especialista.
A renda média per capita da mulher brasileira ficou em US$ 10.073 ao ano, 42,6% abaixo da registrada pelo homem, de R$ 17.566 anuais. Para ele, essa é uma oportunidade para o próximo governante atacar para melhorar a produtividade na economia. “Se o país conseguir diminuir a disparidade da renda entre homens e mulheres, certamente o IDH avançaria junto com o das mulheres. Portanto, promover a redução da diferença salarial entre homens e mulheres é um fator que vai ajudar a desenvolver o IDH da nação em termos de produtividade também porque as mulheres têm mais estudo e condições de colaborar com a economia”, explicou.
Beltrão, da FGV, lamentou o fato de a desigualdade no país continuar elevada, principalmente, entre homens e mulheres. “Uma pena que o aumento de escolaridade feminina não se refletiu na melhora da renda”, afirmou. Contudo, ele faz um alerta sobre essa questão da produtividade, porque, a maioria das mulheres acabam se formando em áreas que são menos valorizadas socialmente e economicamente. “Tem muitas mulheres formadas em enfermagem e pedagogia, que pagam menos e não estão relacionadas à produção e isso pode explicar uma parte do hiato da renda”, completou. Na avaliação dele, o próximo governo precisa primeiro fazer as reformas econômicas necessárias para equilibrar as contas públicas e assim ajudar a economia voltar a crescer. “O governo precisará ter espaço no Orçamento para criar políticas sociais para melhorar o quadro atual do IDH, que continua nada animador”, destacou.
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