“O capitalismo americano não iria acabar, fosse qual fosse o resultado do impasse fiscal no Congresso. Mas o desfecho esboçado nesta noite de domingo é quase uma rendição de Obama ao Tea Party, tendo merecido a repulsa da esquerda do partido Democrata. Formada por cerca de 70 parlamentares ela vocaliza os setores da sociedade que mais se engajaram na eleição de Obama. A proposta a ser votada nos próximos dias fixa um novo ponto de referência na trajetória de Obama, dos EUA e do mundo.
O presidente não se mostrou uma alternativa política capaz de contrastar os interesses enfeixados pela supremacia das finanças desreguladas. Ao contrário. A crise fiscal evidenciou a monopolização do sistema político norte-americano por uma direita extremista, filha da madrassa neoliberal ativada nas últimas décadas.Embebida em um laissez-faire rudimentar, indissociável de uma visão de mundo belicista, ela busca compensar a desordem intrínseca a sua ideologia com uma pregação moralista e religiosa de sociedade.
Ao ceder em quase tudo o que exigia a ortodoxia extremista, Obama coloca a população pobre dos EUA na linha de tiro de cortes que podem chegar a US$ 3 trilhões em dez anos. Em contrapartida seu plano de elevar a receita com maior imposto sobre os ricos foi engavetada. A rendição de Obama coloca o mundo à mercê de forças incapazes de exercer o poder americano com algum equilíbrio e discernimento.
Ademais de irradiar instabilidade financeira, os EUA se transformam num fator de insegurança política em escala global. A negociação orçamentária escancarou o que estava subentendido e consolidou uma dimensão atemorizante do passo seguinte da história. Os países em desenvolvimento devem extrair lições esse episódio. Mas, sobretudo, blindar sua agenda econômica e social contra os solavancos implícitos na nova era da incerteza.”
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