segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dora Kramer já vê Lula voltando em 2014

Longe dos olhos
Dora Kramer
Os votos das eleições municipais ainda estavam sendo apurados quando um político, que além de governista é ministro, em conversa reservada chamou atenção para o detalhe: "Vocês (jornalistas) não estão percebendo a jogada".
Ele se referia ao noticiário sobre a possível candidatura à Presidência da República do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, saudado como liderança emergente na política nacional.
O ministro falava mais especificamente da leitura que se faz do afastamento de Campos do ex-presidente Lula e seu provável alinhamento ao campo da oposição mais adiante, se a economia e os humores do eleitorado criarem dificuldades para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, não é assim que o panorama é visto em algumas rodas de governo.
Nelas se conversa o seguinte: Lula estaria adorando e de alguma maneira até incentivando os festejos em torno de Eduardo Campos.
Quem conhece bem os anseios e o modo de agir do ex-presidente aposta que o plano dele é realmente tentar voltar ao Palácio do Planalto em 2014.
A primazia é a recandidatura de Dilma que Lula, no entanto, não teria dificuldade de afastar. Mas, ponderam os analistas palacianos, faria isso muito melhor se tivesse uma boa justificativa. É aí que entra em cena o fortalecimento da figura do governador. Quanto mais viável ele se apresentar como alternativa ao campo governista, mais argumentos Lula e o PT terão para alegar que só a volta do ex-presidente seria capaz de assegurar a vitória e a preservação do projeto de poder.
Nesse caso, consideram aqueles autores, ofereceria o lugar de vice para o pernambucano e reforçaria a presença do PMDB no Ministério como forma de compensação. É o que vai acontecer? Não necessariamente, mas é o que os observadores engajados no processo entendem que Lula engendra.
E também o que alguns espectadores da oposição acham provável partindo do princípio de que seria muito difícil Eduardo Campos, um situacionista, mudar radicalmente o discurso para buscar votos na condição de oposicionista.
Moto próprio. O PT tem autonomia para aplicar seu estatuto como bem entender. Nisso o presidente do partido, Rui Falcão, diz o óbvio ao justificar a decisão de não punir os condenados pelo Supremo: "Quem aplica o estatuto somos nós".
O PT só não pode insistir em dizer que o partido não se confunde com os crimes cometidos "por alguns" quando os protege alegando que a previsão de expulsão para condenados "por crime infamante ou práticas administrativas ilícitas" nesse caso "não se aplica". A interpretação é discricionária e casuística. Se de um lado evidencia uma unidade rara - senão inexistente - em outros partidos, de outro elimina a possibilidade de qualquer separação entre a ação de um grupo e o pensamento do coletivo, neste aspecto representado pelo presidente. Com a agravante de autorizar a conclusão de que para o PT as leis e regras não requerem obediência irrestrita. Dependem da conveniência.
Meia volta. Se arrependimento matasse não sobraria um deputado federal do PT para contar a história do acordo de rodízio na presidência da Câmara firmado com o PMDB.
É grande a inquietação na bancada, que não acha a menor graça em ficar de fora do comando do Congresso, ainda mais em ano de sucessão.
Na Câmara o acerto é em prol do líder pemedebista Henrique Eduardo Alves e no Senado vale o critério da escolha de um representante do maior partido. No caso, o PMDB.
Os deputados petistas alegam que não foram ouvidos sobre o acordo, cujos termos estão bem postos por escrito, assinados e devidamente guardados na gaveta do vice-presidente Michel Temer.

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