quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Por políticas afirmativas que combatam a intolerância e não que as reafirme

Jornalista André Justino

A chegada de novembro traz para muitos o imperativo da reflexão sobre o histórico de opressão vivido pelo povo negro. Desde o advento do escravismo até a exclusão social, vivida no cotidiano brasileiro, durante toda a sua formação histórica. A população brasileira mesmo sendo majoritariamente negra, expõe de forma cada vez mais desavergonhada seu racismo e com isso sua intolerância não apenas racial, mas também com os desencontrados nos padrões sociais elitistas. 


Casos como o do jovem ator negro, preso no início de 2014, por ser apontado como ladrão dentro de um Shopping, sem que com ele fossem encontradas as provas do crime e que só depois de preso foi comprovada sua inocência; tratando ainda dos centros de compras, as inúmeras polêmicas a cerca dos “rolezinhos” promovidos por jovens da periferia; a cabeleireira que teve seus serviços recusados por uma cliente, que justificou a recusa em virtude da cor de pele da trabalhadora; as recorrentes agressões de torcedores do Grêmio ao goleiro do Santos, o Aranha; o Professor, no Espirito Santo, que disse e refirmou que “detestaria ser atendido por um médio negro”. Tais relatos são ainda maiores se contabilizadas as experiências não destacadas na imprensa.

Para repelir a reprodução dessas práticas, políticas afirmativas tem se consolidado como ferramentas de inclusão. A de maior destaque é a políticas de cotas. Elas servem como uma compensação histórica que o Estado brasileiro tem com a maior parcela da população que sofreu a exclusão e exploração, através do uso de sua mão de obra no passado não remunerada e depois consumida a baixíssimo custo. 

A instituição da política de cotas para a inclusão do povo afrodescendente nas instituições públicas, seja nas universidades ou no funcionalismo público, causa o estranhamento dos que carregam na sua formação social a intolerância pelo diferente e a repulsa pelos socialmente excluídos. Expõem com tal reprovação sua indiferença histórica ao afirmar que cada individuo deve ascender conforme sua capacidade, mesmo que negando as diferenças sociais postas em um país que sempre reproduziu as mesmas práticas do tempo da escravidão.

Sejam casos concretos de práticas racistas ou implícitas no cotidiano da população, através de programas midiáticos como o Esquenta ou Sexo e as Nega, ambos da Rede Globo, reafirmam a atualidade e a presença concreta dessa violência social. Assim, políticas afirmativas promovidas pelo Estado, devem servir de reparação social, mas sobre tudo, compreendendo uma estratégia de país, com metas e prazos estabelecidos para o seu uso, do contrário estará reforçando as distorções vistas no passado e no presente. 

Refletir o mês da Consciência Negra implica em usar do senso critico para compreender a necessidade da política de cotas hoje, tendo o discernimento político para evitar o mau uso através do aparelhamento social, com vieses eleitorais. Significa exercitar o contraditório, frente a uma expressão social minoritária que sempre esteve no poder e que recusa radicalmente a socialização deste poder. Obedece a necessidade de afirmar o povo brasileiro como um povo mestiço e por isso detentor de uma pluralidade étnica, que deve ser sobre tudo respeitada a partir de sua individualidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário