MT 247 - Pelo menos duas testemunhas ouvidas na Operação Terra Prometida, sobre grilagem de terras destinadas à reforma agrária em Mato Grosso, implicam o ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB), no suposto esquema de apropriação de lotes que, pelo programa do governo federal, seriam destinados a agricultores sem terra. A Justiça Federal em Mato Grosso pediu ao Supremo Tribunal Federal que autorize a investigação.
O pedido de investigação de Neri foi feito pelo juiz federal Fábio Henrique Rodrigues de Moraes Fiorenza, em despacho do dia 27 de agosto deste ano. Por terem foro privilegiado, ministros de Estado só podem responder a inquéritos penais no Supremo. No documento, o magistrado destaca o depoimento das testemunhas, que deram detalhes do suposto envolvimento de Neri com o esquema em Mato Grosso.
Em depoimento concedido no dia 12 de agosto ao Ministério Público, o posseiro Adair dos Santos confirmou que foi funcionário do ministro nos lotes 92 e 93 do assentamento Itanhangá, onde ocorreram os crimes de grilagem de terra investigados na operação. O assentamento é considerado um dos maiores e mais valorizados do mundo, com cada um dos seus 1.149 lotes avaliados em mais de R$ 1 milhão.
“Trabalhei [para Neri Geller] com extração de madeira, tirando tora. Na época eu tirava, por exemplo, 200 metros cúbicos de madeira, mas ficava com 70 ou 80 metros cúbicos de madeira como forma de pagamento, e o restante ficava com o Grupo Geller”, afirmou o posseiro no depoimento ao MP. Ele, no entanto, não cita em que ano trabalhou para Geller.
O Posseiro ainda relatou que mantinha contatos frequentes com Geller, que ia no lote pessoalmente. Ele afirmou que o Grupo Geller é comandado, na verdade, pelo ministro. “A empresa, só no papel, é do Grupo Geller, pois quem comanda e é dono na verdade é Neri Geller”, afirmou Santos. “Os outros irmãos ajudam a administrar, não só essa empresa, mas as outras empresas, como supermercado, instaladora, fazenda, entre outros. Que na prática tudo é de Neri Geller e não do grupo, já que Neri não pode aparecer”.
O juiz incluiu na sua decisão uma testemunha anônima que afirma que a “organização criminosa tem braços políticos, sendo alguns deles verdadeiros ‘laranjas’ e ‘testas de ferro’ de autoridades públicas de Mato Grosso”.
Essa testemunha afirmou que Geller tem “inúmeros lotes no assentamento”. E que dois deles foram vendidos para um fazendeiro da região. Geller foi citado várias vezes ao longo da investigação. A suspeita é que ele tenha favorecido a negociação ilegal de lotes e até se tornado proprietário de um deles. O programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) prevê a distribuição de 1.149 lotes de 100 hectares. Hoje, cada um desses lotes está avaliado pelo mercado local em R$ 1 milhão. Dois irmãos do ministro, Odair e Milton Geller, entregaram-se na quinta-feira à PF após terem a prisão decretada.
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