(Foto: Paullo Allmeida)

FOLHA PE
Não houve facilidade. Nunca há. A torcida do Santa Cruz sabe disso – e repete frequentemente uma espécie de ditado popular coral: “Tudo é difícil para o Tricolor”. Dentro de casa, neste domingo, a história se repetiu. O time dirigido pelo técnico Ricardinho jogou melhor que o Salgueiro, procurou o gol o tempo todo. Sem muita qualidade técnica, na base da vontade, a equipe lutou. E lutou. E lutou. Só achou a glória aos 24 do segundo tempo, com o atacante Anderson Aquino: 1 x 0. Mas, dizem os experientes, sofrimento cria caráter. A torcida coral sabe sofrer. E nos últimos tempos voltou a se acostumar a vencer. Pernambuco, em 2015, tem dono. E, pela quarta vez em cinco anos, o estado é vermelho, branco e preto.

O primeiro tempo foi todo do Santa Cruz. Inflamado pela torcida e motivado pela necessidade da vitória, o Santa Cruz tomou a atitude desde o início. Isso não se refletiu no placar, é verdade, mas as estatísticas demonstraram a superioridade: o Santa Cruz criou muito mais do que o adversário. A primeira chegada de perigo foi logo aos quatro minutos. Luciano saiu muito mal após em escanteio. O rebote sobrou para o volante Bruninho, do Santa. O chute era até fácil, mas saiu torto. Para fora.
Ainda que não tenha resultado em gol, o lance serviu de combustível para a torcida tricolor entrar mais no jogo. O Santa Cruz seguiu em cima. Martelou, martelou. Edson Sitta levou perigo duas vezes, em chutes de longa distância. O Carcará, por outro lado, não exibia muita força ofensiva. Buscava o contra-ataque. Mas o atacante Kanu, em tarde/noite muito ruins, desperdiçou todas as articulações ofensivas da equipe. A última boa chance coral na primeira etapa foi aos 37. Bruninho fez linda tabela com Betinho, invadiu a área pela direita e deu passe cruzado para Emerson Santos. O meia, porém, bateu fraco. Luciano espalmou e, no rebote, a defesa salgueirense garantiu.
Na volta para a segunda etapa, as duas propostas se repetiram: o Salgueiro se defendia em busca de um bote volta. O Santa Cruz propunha. O Carcará reagia às investidas. Nervoso, porém, o Tricolor falhou diversas vezes no passe que deixaria o atacante em condições de marcar. Aos 23, Anderson Aquino foi lançado por João Paulo, dominou bem, mas, na hora de fazer, se enrolou com a bola e furou. Feio. Quase não deu tempo, no entanto, para a torcida ficar com raiva. No lance seguinte, o atacante tabelou com o camisa 10 – melhor jogador tricolor no jogo e no campeonato-, cortou da esquerda para dentro e soltou um chute rasteiro, rasante, no canto. Sem chance para Luciano. Gol coral, explosão na arquibancada. Imediatamente depois da bola na reda, a torcida soltou o grito que ainda não ousara soltar: “O Campeão voltou”. Voltou.
(Foto: Flávio Japa)
A alegria, como sempre nessas situações, cedeu lugar à apreensão. Sérgio China mandou a cautela às favas. Precisando atacar, acionou o ofensivo Jefferson Berger no lugar do volante Pio. Antes, já havia colocado em campo o meia Cássio no lugar do lateral-esquerdo e substituído um meia, Valdeir, por um atacante, Anderson Lessa. Mexidas corajosas, mas que fragilizaram o setor de meio- campo. O Carcará perdeu capacidade de criação e limitou-se à ligação direta da defesa para o ataque, todas elas rejeitadas pelos altos zagueiros tricolores.
A Cobra Coral conseguiu controlar todo o restante da partida. Não sofreu nenhuma investida realmente perigoso e, ao fim do jogo, incontáveis unhas roídas e infinitos cabelos arrancados depois, pôde fazer a festa. Uma festa, como sempre, do povão tricolor.
(Foto: Flávio Japa)