quinta-feira, 25 de junho de 2015

'Destruir e-mail sondas', diz bilhete de Marcelo Odebrecht para advogados

Advogados falam em malícia na interpretação da Polícia Federal (PF). Presidente da empreiteira foi preso na 14ª fase da Operação Lava Jato.
Agentes da Polícia Federal fizeram cópia de bilhete do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, para advogados (Foto: Reprodução)Agentes da Polícia Federal fizeram cópia de bilhete do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, para advogados (Foto: Reprodução)
A Polícia Federal (PF) entregou à Justiça uma cópia de um bilhete de Marcelo Odebrecht para seus advogados, no qual ele pede para "destruir e-mail sondas". O presidente da Odebrecht está preso preventivamente na carceragem da PF, em Curitiba, desde o dia 19 de junho. Ele é suspeito de participar do esquema de corrupção da Petrobras.

Esse e-mail sobre sondas foi considerado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, como uma das provas da participação da Odebrecht em cartel. Nele, é feita uma referência a sobrepreço em uma operação que, segundo o juiz, remete aos contratos da empresa com a Petrobras (veja mais detalhes abaixo).
 
Na carceragem, Marcelo entregou o bilhete a agentes para que ele fosse enviado a seus advogados na segunda-feira (22). Os policiais, que examinam todas as correspondências por medida de segurança, viram a frase sobre o e-mail e decidiram tirar uma cópia da mensagem escrita pelo presidente da Odebrecht.
Segundo o delegado da PF Eduardo Mauat da Silva, os policiais entenderam "que não haveria problema na entrega do original aos advogados, uma vez que os mesmos iriam ter contato com o preso de qualquer maneira na sequência".
O delegado decidiu, então, ouvir os advogados de Marcelo Odebrecht. Um ofício sobre isso, assinado por Mauat, foi entregue à Justiça Federal e anexado ao processo nesta quarta-feira (24).
Conforme o documento, os advogados Rodrigo Sanches Rios e Dora Cavalcanti Cordani foram até o gabinete do delegado Mauat nesta semana e afirmaram que o verbo destruir se tratava de uma “estratégia processual e não a suspensão de provas”.
Por meio de uma petição protocolada na terça-feira (23), os advogados de Odebrecht afirmam que “as anotações não continham o mais remoto comando para que as provas fossem destruídas, e que – à toda evidência – a palavrar destruir fora empregada no sentido de desconstituir, rebater, infirmar a interpretação equivocada que foi feita sobre o conteúdo do e-mail”.
Para os advogados, o conteúdo do bilhete foi "maliciosamente" interpretado como indícios de prática de crime.
E-mail
O e-mail foi apreendido na sede da empresa em novembro de 2014. A mensagem foi enviada por Roberto Prisco Ramos – ex-funcionário da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht – para Odebrecht e executivos.
Marcelo Odebrecht preso pela Lava Jato (Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)Marcelo Odebrecht foi preso na 14ª fase da Lava Jato (Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)
No documento, é feita referência à colocação de sobrepreço de até U$S 25 mil por dia a um contrato de operação de sondas, o que, segundo Moro, está relacionado a contratos da empresa com a Petrobras. Prisco Ramos ainda faz uma ressalva quanto ao envolvimento da UTC e da OAS, “para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas”.
À época, em nota, a Braskem informou que Roberto Prisco Ramos já não era funcionário da Braskem quando enviou o email, tendo sido transferido no ano anterior para outra empresa do Grupo Odebrecht. Informou ainda que o conteúdo da mensagem, inclusive a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem.
 Na última segunda-feira (22), a Odebrecht divulgou uma nota na qual contesta pontos da investigação da Lava-Jato. Segundo a empreiteira, o termo "sobrepreço" usado no e-mail de Prisco "nada tem a ver com superfaturamento" e representa a tradução do termo de mercado "cost plus fee" (reembolso do custo de operação e manutenção das sondas, acrescido de uma remuneração fixa).






A empresa diz que o e-mail continha discussões técnicas para a contratação de operação de sondas e critica o uso fora de contexto.
14ª fase da Lava Jato
As empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez foram alvos da 14ª fase da Lava Jato, deflagrada em 19 junho, quando 12 pessoas foram presas. De acordo com a PF e o Ministério Público Federal (MPF), as empresas agiam de forma mais sofisticada no esquema de corrupção e fraudes de licitações da Petrobras. Esse diferencial, segundo o MPF, estava no pagamento de propina a diretores da estatal via contas bancárias no exterior.
De acordo com a PF, há indícios de que os presidentes das empresas, que foram presos, participaram de negociações que levaram à formação de cartel e direcionamento de licitações feitas pela Petrobras. Eles "tinham pleno domínio de tudo o que acontecia na empresa", disse o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula.
Os executivos são suspeitos de crime de formação de cartel, fraude em licitações, corrupção de agentes públicos, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, ainda conforme a PF.

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