Ex-deputado e presidente da Fundaj, Paulo Rubem quer renovar sigla no Estado (Foto: Marina Mahmood/Folha de Pernambuco)
Por Monica Crisostomo
Da Folha de Pernambuco
Um dia depois da divulgação de que o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, virá a Pernambuco para um encontro com a direção local da legenda, na próxima segunda, e que a pauta deverá incluir a discussão sobre a realização de convenções (estadual e municipal), depois de quase uma década sem eleições, o secretário Nacional de Assuntos Econômicos do PDT e atual presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Paulo Rubem Santiago, falou sobre as expectativas relacionadas ao tema. Atualmente, Santiago é o principal expoente de um grupo que faz oposição à família Queiroz, encabeçada pelo prefeito de Caruaru, José Queiroz, que há mais de duas décadas comanda o partido no Estado. Ex-deputado federal, ele é cotado para comandar o diretório da Capital. O pedetista, que durante seus mandatos teve forte atuação nas áreas de educação, contas públicas e políticas sociais, também fez uma análise da conjuntura nacional.

O senhor ingressou no PDT em 2007, vindo do PT. Depois de quase oito anos de vivência intensa, qual sua avaliação sobre o partido no Brasil?
Os partidos, de uma forma geral, no Brasil, vivem uma crise. Mas tenho que dizer que o PDT tem se destacado positivamente, em muitos aspectos. Nacionalmente, a legenda tem hoje um protagonismo importante. Temos atuado no Congresso de forma equilibrada, madura e coerente. Um exemplo claro pode ser observado durante a votação do ajuste fiscal. Nossa bancada federal votou de forma unânime contra as MPs. E não podia ser diferente, afinal estamos falando de questões que, para os trabalhistas, são cláusulas pétreas. Mas tudo transcorreu sem traumas e sem celeuma. A direção nacional conversou com o Planalto e deixou claro que não se tratava de uma rebelião, e sim de uma posição partidária coerente.
E em Pernambuco, qual a situação do partido?
Infelizmente, aqui no Estado, o PDT vive uma situação diferenciada. Há uma “dinastia” que já dura 25 anos. As últimas eleições para os diretórios (estadual e municipais) foi há quase dez anos. Desde então, o PDT é presidido por comissão provisória. Isso é inadmissível. Em 2012, houve uma movimentação da direção nacional. Na época, tudo caminhava para que houvesse mudanças neste quadro. Mas isso não aconteceu. Houve uma grande frustração por parte de muitos integrantes. Mas, mesmo assim, começamos uma nova discussão e isso cresceu bastante. Hoje, o comando nacional conhece perfeitamente a nossa realidade. Sabe que existem dois projetos. Um quer a modernização e a democratização do partido. O outro quer manter tudo como está, fazendo da legenda um projeto pessoal, familiar. Não queremos briga ou discussão com ninguém. E se há alguém esperando que isso aconteça, pode esperar sentado. Já encaminhamos para o comando nacional tudo o que pensamos e propomos. Agora, caberá a eles definir o que acham que é o melhor. Nossa interlocução é programática e propositiva.
Pouco antes das eleições de 2014 houve uma intervenção do comando nacional no diretório estadual, como objetivo de garantir o apoio do PDT pernambucano à candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). O que faltou para que as mudanças fossem iniciadas naquele momento?
Durante cerca de quatro meses a legenda saiu das mãos do ex-presidente José Queiroz. Na época, além de garantirmos o apoio à candidatura da presidente Dilma, também tiramos o partido do palanque do governador Paulo Câmara. Fui candidato à vice na chapa encabeçada pelo hoje ministro da Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto. Pouco depois das eleições, o deputado federal Wolney Queiroz, que é filho de José Queiroz, foi indicado para assumir a presidência, com o compromisso de que iríamos iniciar um processo de discussões. Isso não aconteceu.
O senhor é protagonista neste grupo que deseja a mudança. O que este coletivo quer? Qual será o seu papel?
Eu integro a direção nacional do PDT. Fui eleito para isso. Nunca pedi para ocupar nenhum cargo lá, ou aqui no Estado. Mas eu sou um integrante ativo do PDT pernambucano. Quero que aqui sigamos o que há de melhor. Temos bons exemplos nos diretórios do Rio Grande do Sul e Ceará. Eu e outros pedetistas temos o direito de participar do processo eleitoral em qualquer uma das instâncias partidárias. Mas, essa questão, só será fechada quando tivermos uma palavra final da direção nacional sobre a condução deste processo. Se a tese que defendemos for vitoriosa, estou pronto para disputar o diretório do Recife.
Qual será o papel do PDT nas eleições municipais, em 2016?
Há um indicativo, aprovado pelo comando nacional, de que o PDT terá candidatos em todos os municípios brasileiros. Há um desejo forte de que isso de fato ocorra. Temos potencial para crescer e alcançar bons resultados eleitorais.
Como o senhor avalia a crise política vivida pelo Governo Federal?
Há uma crise institucional. E em grande parte isso se deve aos erros cometidos pelo próprio PT. Um exemplo bem simples, objetivo: talvez a maior emergência nacional seja a realização de uma reforma política. Mas estamos falando de uma reforma de verdade e não esse Frankenstein que está hoje ai. O que vemos ser aprovado no Congresso é a constitucionalização das oligarquias. Se em 2003 o ex-presidente Lula tivesse enfrentado e feito à reforma, hoje a situação seria muito diferente. E posso dizer sem receio, não foi por falta de aviso. Na época eu estava no PT e fazia parte de um grupo de 25 deputados federais que brigou à exaustão na defesa pela reforma política. Mas a opção do governo foi outra. Houve sem dúvida muitos avanços sociais. Mas o País seria outro se tivéssemos conseguido vencer aquela missão.