segunda-feira, 6 de julho de 2015

ARTIGO: VOTO DE CABRESTO por Marcos Albanez


É bem verdade que o voto, mesmo do eleitor ainda “amarrado” a certas “lideranças”, já não é mais manipulado pela voz autoritária do conhecido coronelismo. Mas também não há como esconder que a compra de votos e a utilização da máquina – das prefeituras, principalmente – são sistemas ainda recorrentes em pleno século XXI, seja do norte ao sul do País, seja entre o povão, seja entre políticos “graduados” ou cínicos.


O conhecido – e pejorativo – voto de cabresto é humilhante, mas aos que a ele beneficiam, pouco estão se lixando para isso. Aliás, alguns prefeitos, vereadores, “líderes comunitários” etc, que apoiam candidatos às câmaras municipais, às assembleias legislativas e ao Congresso Nacional (“sempre de graça”), compram votos com a maior cara de pau ou, mesmo proibido por lei, fazem doações de tijolos, de cimento, de cestas básicas, despacham receitas médicas, dão lotes populares e por ai vai. Como a única coisa no Brasil que “não arreda o pé” é a cultura do seu povo, esse sistema de compra de votos é tradicional e sobre ele há um controle de poder político por intermédio do abuso de autoridade. Em síntese, é um mecanismo repugnante, mas que funciona, embora todos – eu disse todos – digam que não se utilizam de tais métodos para angariar voto para si ou para seu(s) candidato(s). Não deixa de ser hilário!

            Quem não se lembra da figura do coronel muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil? No município de Limoeiro, o “lendário” coronel Chico Heráclito fez história, “patenteou” dogmas, “criou” lendas e ensinou a muitos “alunos” como comprar o voto dos eleitores “inocentes”. Ele, como “homem brabo” e rico fazendeiro, utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava, mesmo que para isso, ocasionalmente, tivesse que usar a violência. Isso sem falar em voto-fantasma, voto-defunto, fraudes eleitorais, “roubo” de voto nos mapas de um candidato para outro, enfim, uma parafernália política-eleitoral que muita gente se lembra, ainda.

            A propósito há uma história envolvendo o “Coroné Chico” que consiste no seguinte: no dia de uma determinada eleição, o cidadão-eleitor ao chegar à sua fazenda recebeu as chapas com os nomes dos candidatos dentro de um envelope lacrado. Ao perguntar ao coronel em que iria votar, Chico Heráclito olhou-o nos olhos, sério e raivoso, e respondeu: “Meu filho, não esqueça que o voto é secreto”. (Naquela época não existiam cédulas ou urnas eletrônicas. Eram papéis – chapas – com o nome e/ou número do candidato.) Já em São Lourenço da Mata, o Dr. Luiz (Correa de Araújo, então dono do Engenho Cangacá) tinha uma “regra” diferente para o voto de cabresto. Figura querida, popular, de grandes amigos, o “Dr. Luiz” – como era chamado – tinha uma “máquina de dar emprego”. E fazer favores. Seus “discípulos” votavam nos candidatos por ele indicados, fosse de coração, fosse porque devia favores ou fosse como fosse. Mas votavam!

            Os dois parágrafos antecedentes, dão, como exemplo, uma ideia de como o sistema eleitoral funcionava a partir, principalmente, da metade do século XX.

            E em pleno Século XXI, como funciona o sistema, com novos mecanismos de pressão usados para “tomar” o voto? “Esqueçamos” a hipocrisia, a mentira, as promessas, o cinismo, o narcisismo, o egocentrismo e outros “imos” de alguns políticos de “fachadas” que sobrevivem no poder, pelo poder, para ter poder e por achar que só eles são o poder. Não, não são. O que eles fazem é aproveitarem-se da necessidade alheia para que possam estar no poder, isto porque os sistemas político e eleitoral brasileiros, nos dias atuais, tornam mais difíceis à compra do voto, mas não impossível. (O que não deixa de ser uma mudança positiva, quando se trata de política.)

           No entanto, para os “donos do poder”, há um jeitinho de, ainda, direta ou indiretamente, comprar votos, isto porque esse sistema sofreu pouquíssimas mutações na “genética política”, já que a “bactéria” das safadezas, dos esquemas, dos arrumadinhos e dos gastos pecuniários espúrios continuam, já que o antídoto – consciência do eleitor – ainda “anda nas nuvens”. Vejamos, a título de demonstração, uma eleição em municípios com menos de 200 mil eleitores. (Com mais, não há muita diferença, salvo de “estilos”.)

          O leitor-eleitor tem alguma ideia de como é fácil ganhar uma eleição e, paradoxalmente, difícil de ganhá-la? Simples. Simples demais. No primeiro caso, basta o candidato ter mais votos que o seu oponente, mesmo que para obtê-los não importe, literalmente, os meios e/ou os fins.

          Já no segundo, ele – o candidato –, mesmo achando-se imbatível, considerando-se o símbolo do poder, pensando ser o “dono de tudo e de todos”, querendo a perpetuidade sobre aquilo que não lhe pertence (custe o que custar), começa a circular, a imaginar, a decidir... como  estivesse de “sapato alto” e, “sem querer”, tropeça e cai num buraco. Não morre, mas fica desacordado. Ao cair na realidade, receberá um recado das urnas avisando-o que não existe mais o voto de cabresto, e sentirá na pele o que disse o escritor americano Napoleon Hill:

“Se você pensa que é um derrotado, você será derrotado.
Se não pensar “quero vencer a qualquer custo”, não conseguirá nada.
Mesmo que você queira vencer, mas pensa que não vai conseguir,
a vitória não sorrirá para você.”

                                                                                                                       
 *Advogado e jornalista                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

2 comentários:

  1. O dr. Marco Albanez, de quem tenho a honra de ser amiga, admiradora e eleitora, parece que já nasceu escrevendo. Excelente texto.

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  2. Dr. Marcos toca na mais dolorida ferida de nossa cidade. Existe realmente um grande cartel. De tão encrustado em nossa sociedade parece que nem com marreta e pontal se consegue arrancar. Mas a sabedoria popular age como acetona em esmalte... derrete todas as estruturas e arranca facilmente qualquer vestígio de pintura. Assim fará com a pigmentação amarela e desmedida desta frente popular hipócrita e desavergonhada. Parabéns Dr, Marco Albanez. Seu texto está excelente.

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