É bem verdade que o voto, mesmo
do eleitor ainda “amarrado” a certas “lideranças”, já não é mais manipulado
pela voz autoritária do conhecido coronelismo. Mas também não há como esconder
que a compra de votos e a utilização da máquina – das prefeituras,
principalmente – são sistemas ainda recorrentes em pleno século XXI, seja do
norte ao sul do País, seja entre o povão, seja entre políticos “graduados” ou
cínicos.
O
conhecido – e pejorativo – voto de cabresto é humilhante, mas aos que a ele beneficiam, pouco estão se lixando para
isso. Aliás, alguns prefeitos, vereadores, “líderes comunitários” etc, que
apoiam candidatos às câmaras municipais, às assembleias legislativas e ao
Congresso Nacional (“sempre de graça”), compram votos com a maior cara de pau ou,
mesmo proibido por lei, fazem doações de tijolos, de cimento, de cestas
básicas, despacham receitas médicas, dão lotes populares e por ai vai. Como a
única coisa no Brasil que “não arreda o pé” é a cultura do seu povo, esse
sistema de compra de votos é tradicional e sobre ele há um controle de
poder político por intermédio do abuso de autoridade. Em síntese, é um
mecanismo repugnante, mas que funciona, embora todos – eu disse todos – digam
que não se utilizam de tais métodos para angariar voto para si ou para seu(s)
candidato(s). Não deixa de ser hilário!
Quem
não se lembra da figura do coronel muito
comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do
interior do Brasil? No município de Limoeiro, o “lendário” coronel Chico Heráclito fez história, “patenteou” dogmas, “criou”
lendas e ensinou a muitos “alunos” como comprar o voto dos eleitores
“inocentes”. Ele, como “homem brabo” e rico fazendeiro, utilizava seu poder
econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava, mesmo que para
isso, ocasionalmente, tivesse que usar a violência. Isso sem falar em
voto-fantasma, voto-defunto, fraudes eleitorais, “roubo” de voto nos mapas de
um candidato para outro, enfim, uma parafernália política-eleitoral que muita gente
se lembra, ainda.
A
propósito há uma história envolvendo o “Coroné Chico” que consiste no seguinte:
no dia de uma determinada eleição, o cidadão-eleitor ao chegar à sua fazenda
recebeu as chapas com os nomes dos candidatos dentro de um envelope lacrado. Ao
perguntar ao coronel em que iria
votar, Chico Heráclito olhou-o nos olhos, sério e raivoso, e respondeu: “Meu
filho, não esqueça que o voto é secreto”. (Naquela época não existiam cédulas
ou urnas eletrônicas. Eram papéis – chapas – com o nome e/ou número do
candidato.) Já em São Lourenço da Mata, o Dr. Luiz (Correa de Araújo, então dono
do Engenho Cangacá) tinha uma “regra” diferente para o voto de cabresto. Figura
querida, popular, de grandes amigos, o “Dr. Luiz” – como era chamado – tinha
uma “máquina de dar emprego”. E fazer favores. Seus “discípulos” votavam nos
candidatos por ele indicados, fosse de coração, fosse porque devia favores ou
fosse como fosse. Mas votavam!
Os
dois parágrafos antecedentes, dão, como exemplo, uma ideia de como o sistema
eleitoral funcionava a partir, principalmente, da metade do século XX.
E
em pleno Século XXI, como funciona o sistema, com novos mecanismos de pressão
usados para “tomar” o voto? “Esqueçamos” a hipocrisia, a mentira, as promessas,
o cinismo, o narcisismo, o egocentrismo e outros “imos” de alguns políticos de “fachadas”
que sobrevivem no poder, pelo poder, para ter poder e por achar que só eles são
o poder. Não, não são. O que eles fazem é aproveitarem-se da necessidade alheia
para que possam estar no poder, isto porque os sistemas político e eleitoral
brasileiros, nos dias atuais, tornam mais difíceis à compra do voto, mas não
impossível. (O que não deixa de ser uma mudança positiva, quando se trata de
política.)
No
entanto, para os “donos do poder”, há um jeitinho de, ainda, direta ou
indiretamente, comprar votos, isto porque esse sistema sofreu pouquíssimas
mutações na “genética política”, já que a “bactéria” das safadezas, dos esquemas,
dos arrumadinhos e dos gastos pecuniários espúrios continuam, já que o antídoto
– consciência do eleitor – ainda “anda nas nuvens”. Vejamos, a título de demonstração,
uma eleição em municípios com menos de 200 mil eleitores. (Com mais, não há
muita diferença, salvo de “estilos”.)
O
leitor-eleitor tem alguma ideia de como é fácil ganhar uma eleição e, paradoxalmente,
difícil de ganhá-la? Simples. Simples demais. No primeiro caso, basta o
candidato ter mais votos que o seu oponente, mesmo que para obtê-los não importe,
literalmente, os meios e/ou os fins.
Já no segundo, ele – o candidato –, mesmo
achando-se imbatível, considerando-se o símbolo do poder, pensando ser o “dono
de tudo e de todos”, querendo a perpetuidade sobre aquilo que não lhe
pertence (custe o que custar), começa a circular, a imaginar, a decidir...
como estivesse de “sapato alto” e, “sem
querer”, tropeça e cai num buraco. Não morre, mas fica desacordado. Ao cair na
realidade, receberá um recado das urnas avisando-o que não existe mais o voto
de cabresto, e sentirá na pele o que disse o escritor americano Napoleon Hill:
“Se você pensa que é um derrotado, você será derrotado.
Se não pensar “quero vencer a qualquer custo”, não conseguirá nada.
Mesmo que você queira vencer, mas pensa que não vai conseguir,
a vitória não sorrirá para você.”
Se não pensar “quero vencer a qualquer custo”, não conseguirá nada.
Mesmo que você queira vencer, mas pensa que não vai conseguir,
a vitória não sorrirá para você.”
*Advogado
e jornalista
O dr. Marco Albanez, de quem tenho a honra de ser amiga, admiradora e eleitora, parece que já nasceu escrevendo. Excelente texto.
ResponderExcluirDr. Marcos toca na mais dolorida ferida de nossa cidade. Existe realmente um grande cartel. De tão encrustado em nossa sociedade parece que nem com marreta e pontal se consegue arrancar. Mas a sabedoria popular age como acetona em esmalte... derrete todas as estruturas e arranca facilmente qualquer vestígio de pintura. Assim fará com a pigmentação amarela e desmedida desta frente popular hipócrita e desavergonhada. Parabéns Dr, Marco Albanez. Seu texto está excelente.
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