segunda-feira, 3 de agosto de 2015

ARTIGO: “CAIXA 2” NAS CAMPANHAS ELEITORAIS (por Marco ALBANEZ)

          O ex-deputado Ulysses Guimarães e, igualmente,  ex-presidente de “tudo” (PMDB, da Câmara dos Deputados, da Constituinte, da República – na ausência do titular e do vice), ensinou que o que predomina na política é “sua excelência, o fato”. Já outros políticos dizem que “A origem do dinheiro é sempre a Casa da Moeda” – uma zombaria que simboliza o vergonhoso momento em que se encontra a política partidária brasileira –, o que leva o eleitor a crer que não há como “ofuscar” a linha existente entre a hipocrisia e a realidade, haja vista que, ao contrário da moeda, toda campanha eleitoral tem quatro lados: a decência, a sacanagem e as contabilidades legal e a ilegal. Esta última, que tem a alcunha de  “Caixa 2”, configura crime eleitoral. Poucos seriam os candidatos e menos ainda os partidos que escapariam da Justiça Eleitoral se a prestação de contas fosse apresentada, e analisada, de acordo com a lei.


        A expressão Caixa 2 refere-se a recursos financeiros não contabilizados e não declarados a Justiça Eleitoral. Entre os crimes de caixa dois, o de lavagem de dinheiro e organização criminosa está no âmbito do Poder Judiciário. (Supremo Tribunal Federal, sendo um crime bem mais grave.) Ele é utilizado por algumas empresas, que deixam de emitir ou emitem notas fiscais com valor menor ao da transação realizada, para que sejam devidos menos tributos. Desta forma, ao declarar os valores das notas fiscais aos órgãos fiscalizadores, apuram menos tributos a recolher ao erário. A diferença constitui o caixa dois, "esquecimento do Contador da Empresa". Com a multa e o juro, essa diferença deverá ser paga ao erário público. Ou seja, caixa dois é um dos instrumentos utilizados para sonegação fiscal

         Apenas a título de lembrança, se voltássemos à época dos fatos que foram revelados no famoso “Escândalo do Mensalão” (uma “migalha”, se compararmos a roubalheira na Petrobrás), que os petistas insistem em dizer que foi “penas” uma Ação Penal de nº 470, veríamos que praticamente tudo que está-se se discutindo hoje em termos de desvio de recursos públicos, já havia sido discutido e relatado durante aquele julgamento, mas só agora estão-se confirmando as “artimanhas financeiras” que o Partido dos Trabalhadores tanto combatia, mas que hoje forma alunos em todos os níveis governamentais, sejam eles federais (administrações direta e indireta), estaduais e municipais. (E nem começaram as operações BNDES, Infraero, Eletrobrás – foi iniciada, de “leve” –,CEF, BB etc.)

        É sabido que ninguém participa de uma eleição sem que tenha dinheiro para gastar – mesmo os chamados “candidatos da cauda”, nas eleições proporcionais. E todos sabem que há regras para o uso dos recursos próprios e para as doações oficiais. Sabem, sobretudo, que todas e quaisquer doações  têm que ser declaradas, mas não são, já que há dinheiro sujo que não pode aparecer e por isso, em vez de ser inserido na prestação de contas, ele é desviado para o Caixa 2. Para que o leitor tenha uma ideia e fique mais perplexo ainda, cito como exemplo o extraordinário trabalho da Transparência Brasil, cujo levantamento dá uma dimensão do custo oficial de uma campanha eleitoral, sem o registro dos recursos doados por debaixo do tapete: a soma dos gastos de campanhas de prefeitos e vereadores, em 2008, ultrapassou a casa dos R$ 2,0 bilhões. Um aumento superior a R$ 700,0 milhões se comparado aos gastos na disputa para a prefeitura que teve, no último pleito municipal, um número menor de candidatos. E o mais incrível é que na competição para o Executivo municipal houve aumento acima de R$ 50,0 milhões mesmo havendo, também, menos candidatos inscritos. Mesmo se você for um péssimo matemático (a exemplo do autor deste Artigo) – quem sabe da matéria é moleza –, vai observar que a relação de R$ 1,00 oficial para R$ 1,00 não declarado, na eleição municipal de 2008, gerou uma diferença em torno de R$ 3,9 bilhões a mais que a de 2004. E de onde veio essa grana não declarada?

       Encontra-se no Congresso Nacional o Anteprojeto de Lei que altera alguns dispositivos da Lei nº 4.737, de 15.7.1965 (Código Eleitoral), principalmente o artigo 339, que passará a vigorar assim:  Art. 339. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação para a escrituração contábil de partido político e relativa ao conhecimento da origem de suas receitas e a destinação de suas despesas: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, além da perda dos recursos ou valores. § 1º A pena será aumentada quando se tratar de recurso ou valor referente à prestação de contas de campanha eleitoral. § 2º Incorrerá na mesma pena quem receber recurso ou valor proveniente de atividade ilícita ou não declarado pelo doador ao órgão competente.

       Dinheiro sem identificação não pode ser identificado como ilegal sem que seja feita a prova. E, segundo o PT, ele é fruto de recursos próprios e de empréstimos bancários. Todo isso – e mais alguma “coisa” – começa a ser desvendado.

      Um detalhe: a revista Veja da semana passada, com matéria de capa, destrói tudo que o ex-presidente Lula dizia e, igualmente, os argumentos que ele apresentava, os quais estavam relacionados à ajuda financeira para as campanhas. Hipocrisia pura. Os recursos oriundos de empreiteiras não era “Caixa 2” – e uma pequena parte poderia até ser. Era roubalheira mesmo e já se sabe que o ex-metalúrgico comprou o seu apartamento duplex no Guarujá com pagamento efetuado pela Construtora OAS, sem contar com enriquecimento do seu filho Lulinha, do Instituto Lula e do “legado” financeiro que “recebeu” enquanto esteve – “mesmo fora” – no poder.

      Há um seriado – ficção – na televisão norte-americana, chamado Pretty Litte Liars, reunindo drama, mistério e suspense, que lembra os dois maiores escândalos da política brasileira em todos os tempos (com direito a “desaparecimentos”, mas em sentido figurado). Por isso, não custa nada lembrar a esses “fariseus” um conhecido provérbio italiano, que diz:

“No fim do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa.”


*Marco Albanez  é advogado (OAB-PE nº 7.658) e jornalista (DRT/PE nº 3.271)

13 comentários:

  1. Perfeito irmão! Vc é FODA!

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  2. Sverino José de Mélo3 de agosto de 2015 às 08:29

    Caro Dr. Marco Albanez, como sempre seus artigos são bastante esclarecedores da triste realidade da política partidária no nosso País.

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  3. Disseminada em todas as entranhas políticas, a corrupção agrega as más intenções o caixa 2, impregnando-a com o "pus" que faltava. Se já tínhamos uma "infecção latejante", hoje sabemos que essas superbactérias só poderão ser aniquiladas com a ponta do dedo no botão verde, depois de digitados os números corretos. Você pode imaginar um vereador em São Lourenço da Mata ser eleito com pouco mais de dois mil reais? Pois é... basta procurar as informações corretas. Seu texto é pujante, relevante, necessário e excelente. Mais uma vez...Parabéns Dr. Marco. Orgulho-me de te-lo como colaborador do blog.

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  4. Nobre amigo. Parabéns, mais uma vez, pelo magnífico texto. Mostrando-nos, o quanto alguns políticos gatunos do nosso País, cujo apetite em afanar o dinheiro público é insaciável, utilizam-se desses artifícios criminosos para perpetuar-se no poder. Um forte abraço. Anselmo Gouveia.

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  5. Marco! Parabéns pelo artigo. Um abraço. Liliane Rendall.

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  6. Valeu amigo. Aprovado! Pode publicar...

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  7. Simplesmente ESPETACULAR. Parabéns amigo. Como sempre proporcionando boa leitura.

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  8. Esse Magno tá pensando que os vereadores de São Lourenço são o que ele diz?. Ninguém gasta muito dinheiro. É invenção. A gente tem voto porque prestamos uma grande assistência ao povo da nossa cidade. É só ir nos gabinetes e ver que todo dia estão lotados. Ganhamos eleições porque trabalhamos e não fofocando com noticias mentirosas.

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    1. O anonimato é o símbolo da covardia, do medo, de quem tem pobreza de espírito, de quem não passa de um germe ou de um inseto... Portanto, senhor "anônimo" - ao que tudo indica, um vereador de meia-tigela -, se Magno Dantas, um dos profissionais mais imparciais que conheço, disse que dá e/ou se pode imaginar "um vereador de São Lourenço" se eleger com R$ 2,0 mil", use uma calça, seja homem e vá diretamente a ele dizer o que é mentira ou o que é verdade. Não leia meus artigos e nem faça comentários anônimos, pois neles só há espaço para pessoas inteligentes e de coragem. Analfabeto não tem vez. (Apenas da língua portuguesa, porque nos demais "temas" ou "atos" você é "inteligente" até demais.)

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  9. Assistências... assistencialismos... desincompatibilização com o decente... bem, em fim... sou do tempo que assistência era nome de ambulância. Hoje é quase nome de corrupção.

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  10. Peço ao companheiro que identifique-se ou terei que retirar seu comentário.

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  11. Caro Anônimo: você sabe que a honra tem sido a bandeira da minha existência e o que aconteceu na Câmara você sabe muito bem o que foi, porquê foi, como foi e com quem foi. Portanto, não seja vabagundo ao extremo. Ademais, nem adianta você voltar a faculdade e estudar pra ser decente porque o DNA do roubo está comprovado. Está no seu sangue.Espero não ter a infelicidade de vê-lo saindo (você sabe de onde) algemado por ter roubado tanto e comido tantos "tocos" de fornecedores que está chamando a atenção em São Lourenço. Se tive votações insignificantes, ainda assim fui vereador duas vezes, presidente da Câmara duas vezes e o candidato a prefeito em 92 só venceu por minha causa. E, para que não esqueça, eu fiz a diferença na vitória de Bruno na eleição passada. Finalmente, como disse, o anonimato é o esconderijo de vagabundos, marginais, gatunos, larápios, salafrários, pústulas e ladrões como você e sua gang. Aproveite, pois só tem um ano e quatro meses para continuar roubando. (Como você, cafajeste de 5a categoria, sabe onde moro, vá lá. Como não tem coragem, diga o horário onde possa encontrá-lo, porque o local eu já sei.)

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