segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A CREDIBILIDADE DOS POLÍTICOS

Por Marco ALBANEZ*

              Mesmo sem considerar a “reforma” política que irá alterar muita coisa em termos de legislação eleitoral, assunto do meu próximo artigo (até a última quinta-feira 24, a presidente Dilma Rousseff não havia sancionado o projeto de lei – o prazo é até o próximo dia 30 –, mas ela deverá vetar o artigo relativo à doação de empresas para candidatos e partidos políticos, considerada inconstitucional pelo STF), não falta muito tempo para o início da campanha eleitoral (de direito, pois de fato ela já começou “desde 2015 a.C.”) relativa às eleições municipais de 2016, quando os candidatos estarão autorizados pela Justiça para irem as ruas pedir votos, realizarem caminhadas e reuniões, bem como promoverem comícios. “Sem querer querendo”, tomei conhecimento do resultado de uma pesquisa feita pela Radar Ideia Popular – Mudança Política (em parceria entre os institutos Data Popular e Ideia Inteligência) o qual deixa qualquer pessoa estarrecida: 89,8% dos eleitores não acreditam que os candidatos eleitos sejam capazes de fazer as mudanças necessárias nos seus municípios. Muito pelo contrário: acham que a maioria dos vitoriosos estará mais preocupada em institucionalizar o crime.


             Evidentemente que não haverá tanta depravação nesse sentido, mas quando você pensa no que vem acontecendo nos últimos anos – precisamente a partir de 2003, com “mensalão” e “Lava a Jato”, dois dos mais vergonhosos escândalos dentre os mais de 40 já protagonizados por um partido político que foi criado alicerçado na honestidade, nos direitos dos trabalhadores, na reorganização política e “milhões” de etceteras, começa a se perguntar por que o Brasil é um país corrupto e se continuará corrupto ou mais corrupto. Motivos não faltam e muitos deveriam e poderiam ser evitados.

            Acontece que grupos econômicos, ao patrocinarem a eleição de prefeito (estou falando em eleição municipal), assim fazem, como é natural, sob a condição de obterem financiamentos graciosos, participarem de licitações premiadas, privatizarem o espaço público, multiplicando lucros, ou seja, em tal contexto, a política passa a constituir extraordinário atrativo para criminosos profissionais, em geral burocratas medíocres, desqualificados moral e tecnicamente, sem perspectiva fora da política... e também porque alguns partidos políticos passam a funcionar, assim, como autênticas quadrilhas, cujos membros seguem a lógica do quem dá mais, por isso que trocam de legenda constante e impunemente – o mandato é do partido, que pode “tomá-lo”, igualmente, pelo suplente ou ainda pelo Ministério Público.

           Eu sei, vocês sabem, eles sabem... que o sistema representativo é um engodo, mas tem a participação do eleitor como parceiro, pois não raro ele exige algum proveito próprio, tornando o voto um instrumento para legitimar e perpetuar o crime por candidatos eleitos que não lhe representa de fato. Eles estão mais preocupados com os seus próprios interesses e, naturalmente, dos daqueles que os patrocinam, ou seja, sabemos de tudo, mas ainda assim deixamos-lhes no poder e com poder, e “todo mundo” assiste essa criminalidade passivamente. Tudo bem que eles estejam protegidos por um sem número de privilégios (foro privilegiado, imunidades parlamentares etc.) que os tornam grandemente imunes às investigações, mas tudo tem o seu limite.

          O pior de tudo, por mais que não se queira acreditar, a corrupção política traduz a nossa própria hipocrisia, a nossa indiferença, a nossa tendência ao jeitinho, pois a corrupção é de algum modo interação/acordo entre corruptor e corrompido, entre eleitor e eleito, já que o brasileiro é obrigado a votar. Como bem disse Michel Foucault, filósofo e critico literário francês, “a democracia, essa desgastada metáfora, é uma palavra que remete a múltiplas relações de poder que nada têm de democráticas, relações frequentemente de violência e tirania e permanentemente em mutação”.

         Mas o criminoso político não existe por acaso. Os seus crimes são praticados em vista de uma formatação simbolizada por vários fatores, Dá para entender a existência de um Senado com 81 “representantes” do Estado? Uma Câmara Federal com 513 parlamentares? Um Estado demasiadamente burocrático? Leis e mais leis não significam, e nem impedem, novos crimes. Podem até aumentar o número de mais gatunos rumo a cadeia, mas, como disse o cientista político e filósofo francês Montesquieu, ”as leis desnecessárias enfraquecem as leis necessárias”. E é verdade. O pior é que o povo brasileiro acredita ser livre, mas está enganado: é livre apenas durante as eleições. Depois, ele volta à “escravidão”, a ser um nada. Em alguns casos, o cidadão, convertido em objeto e não sujeito da política, só poderá expressar sua indignação nas eleições seguintes.

         Será que não há como o povo mudar esse quadro? O eleitor escolher melhor os seus representantes? Ou é mesmo uma questão de cultura? Professor (UniCEUB) e Procurador da República, Paulo Queiroz tem uma teoria que merece reflexão. Para ele, “O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está estruturado para sê-lo!”. Realmente, não sei!
         Mas, como bem “alardeou” o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan,
        
"Eu creio que política é a segunda profissão mais velha do mundo.          E acabo de perceber que tem muita semelhança com a primeira."

*Marco ALBANEZ

É advogado (OAB-PE nº 7.658) e jornalista (AIP nº 2.163 e DRT/PE nº 3.271)

7 comentários:

  1. Marco, às vezes questiono o “preço” da democracia que o povo brasileiro tem que pagar! Até quando nós vamos aguentar? Será que tá valendo a pena?
    Saudações,

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    1. Holandês: seu questionamento tem sido motivo de "n" conversações em todos os segmentos da sociedade. É evidente que a nossa democracia é "nojenta", mas a volta dos militares (dos quais já fui vítima, se não sabe) não seria o ideal. Pelo menos agora. (Vamos aguardar os escândalos do BNDES e Eletrobrás, que são piores que o da Petrobrás.)

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  2. ANSELMO GOUVEIA
    Prezado Marcos
    Nosso país esta repleto de homens inteligentes que enveredam pelo caminho da política, no entando, após serem eleitos a intenção é só uma: locupletar-se do dinheiro público, exemplos temos diversos no governo federal e em municípios próximos, e não vemos perspectivas de melhoras a não ser que saibamos na hora de votar, optarmos por governantes honestos e compromissados com os anseios do povo. Anselmo Gouveia.

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  3. Caro Dr. Marco Albanez, muito bom esse artigo. Cada vez mais desfruto de suas reflexões cheias de ensinamentos.

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  4. Pra torar; boa.

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  5. Pelo que está acontecendo, a solução é os milicos fuzilarem esses safados (mais do PT) que roubam nosso dinheiro como se estivesse roubando manga.

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  6. É MANDAR O EXERCITO MATAR O PREFEITO DE SÃO LOURENÇO DE PAUDALHO DE CARPINA E DE OUTRAS CIDADES 11111 ESTÃO ROUBANDO DEMAIS!!! TODOS ESTÃO RICOS. UMA VERGONHA !!!

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