REVOLTADA, FUNCIONÁRIA DEMITIDA DA PREFEITURA MANDA CARTA AO PREFEITO E DIZ: "Quando fui contratada, foi para ser psicóloga e não fazer parte da militância."

LEIA A CARTA NA ÍNTEGRA:

Carta de uma profissional frustrada...

Ao prefeito da cidade de São Lourenço da Mata.

Não sei se você me conhece ou se já ouviu falar de mim. Sou psicóloga e fui funcionária da prefeitura que você gerencia. Escrevo-lhe este texto para expressar minha indignação com a forma que você escolheu para administrar a cidade. Demorei a expor minha opinião porque é difícil acreditar que essa forma de fazer política e gerenciar o serviço público é tão natural por aqui. Falo do voto de cabresto e do faz de conta que as instituições funcionam.

Durante o período eleitoral, eu ouvi todos os dias que DEVIA ir aos comícios do seu filho. Caso não fosse, perderia o emprego. Exatamente o que aconteceu, mas deixemos isso para depois.

Disseram-me que eu tinha que lhe retribuir um favor. Sabe qual? De ter me dado um emprego (Mesmo que eu não tenha pedido emprego a você nem a alguém do seu grupo político). Não me sinto em dívida. Quando fui contratada, foi para ser psicóloga e não fazer parte da militância.

Para "sua" prefeitura funcionar é necessário que existam PESSOAS. Sozinho você não consegue governar uma cidade e fazer os serviços funcionarem. Falando em funcionar... Quais serviços funcionam de verdade na sua cidade? O que eu trabalhava é uma grande maquiagem. Não realiza nem 30% das atividades que deveria. Não fui conivente com isso. Sensibilizei a equipe e lutei o quanto eu pude por melhorias, mas o sistema é muito forte. A maioria acredita que tudo deve continuar como está. Que devemos fazer tudo que é imposto, sem questionar. Não saí tão frustrada porque acredito que uma semente foi plantada: a da possibilidade de mudança. Apontei todos os erros do Serviço nos meus relatórios. A coordenação e a diretoria de Proteção Especial devem ter todos. Mas, nada foi sanado. O conteúdo dos relatórios nunca foi discutido comigo. Outra coisa... Tentei encaminhar vários jovens para atendimento psicológico (via ofício), mas nunca consegui marcação. A informação dada é que só há uma profissional de psicologia no ambulatório. Acredite se quiser, é uma profissional para a cidade inteira.

Comecei a trabalhar dia 06/05/2014 e até hoje não assinei meu contrato e fui informada, no momento da demissão, que não iria assiná-lo. E que não posso, ao menos, receber uma declaração de tempo de serviço porque isso configuraria vínculo empregatício. Isso se trata de contrato de trabalho ilegal e devo acionar a justiça para receber o que tenho direito, inclusive férias e décimo – o que “seus” funcionários desconhecem. Décimo? Nenhum funcionário viu. Outra informação importante: Lá no serviço alguns funcionários só compareciam no dia de assinar a folha de ponto. Você sabia disso?

Uma das coisas que me deixou muito revoltada foi ouvir a seguinte frase: "esse é um emprego político (1) , está na hora de retribuir em um mês (2) o que nosso prefeito nos dá todos os meses (3) . E ninguém venha falar de competência, porque se fosse competente tinha passado num concurso”. (Palavras de pessoa de sua confiança, que gerencia programas). Já pensou como um profissional se sente ao ouvir isso? Eu senti muita raiva, na verdade fiquei indignada. Neste mesmo dia, fui "obrigada" a assinar uma ata me comprometendo a ir panfletar (material de campanha política do seu filho) no dia do desfile cívico da cidade.

No seu governo, competência é sinônimo de voto no candidato que você indica, idas a comícios e falta de questionamentos. Os funcionários não tem perfil para estar no cargo que ocupam. As coisas são feitas de qualquer jeito, sem cuidado algum com os usuários do serviço. Apesar das denúncias feitas ao TRE e ao MPPE, quanto a "obrigatoriedade" na participação de eventos políticos, nada aconteceu. Eu (e muitos outros funcionários), em horário de trabalho, fomos “obrigados” a ir para rua entregar material de campanha do seu filho. Repito, em horário de trabalho. Como eu não concordo e nunca concordei com o projeto político do seu grupo, fui demitida.

Peço licença para lhe dar um conselho. Se os serviços funcionarem como devem, se forem de qualidade, as pessoas votarão em você porque é um bom gestor. Do contrário, elas só “aceitarão” seus favores e fingirão que concordam com sua forma de fazer política. Voto de cabresto, além de ser crime, não vai funcionar por muito tempo. Você já percebeu isso. O resultado da eleição está aí. Seu filho não foi o mais votado da cidade. As pessoas estão despertando.

Se você ainda tiver intenção de pleitear cargos públicos, desejo que possa se livrar dessa VELHA forma de fazer política.

             Se você tiver interesse em saber sobre minha forma de trabalho, procure os usuários do Serviço. Eles terão informações fidedignas a respeito da minha atuação profissional.

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos por todo tempo”. (Abraham Lincoln)

Atenciosamente

Allayni Vasconcelos

1 - Só uma dúvida: há essa modalidade de contrato?

2  - Setembro: o último mês da campanha eleitoral

3 - O salário