sábado, 26 de setembro de 2015

UFPE: africanos sofrem preconceito

Estudantes relataram que são excluídos pelos demais alunos por causa da cor.

"Em seminários é difícil colegas brasileiros fazerem parte do seu grupo, fogem da gente achando que irão ficar com uma nota negativa. Geralmente acabamos sozinhos''. Esse é um dos depoimentos de universitários africanos que estudam na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Vários relatos semelhantes foram reunidos pelo Vídeo do Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (Gepar), da UFPE, para alertar sobre o problema. Infelizmente, o racismo existe. A maioria das demonstrações disso vieram de pessoas de cursos se humanas, que aparentemente esqueceram o sentido desta palavra. 

Significado de Humana
Humana: humaniza; humanizas; humanize.
Humanar: v.t.d. e v.pron. Atribuir caráter humano a; conceder ou possuir condição humana.
Tornar-se benéfico; fazer com que seja tolerável; humanizar-se.
Forma mais utilizada e preferencial: humanizar.
(Etm. do latim: humanare).

  
Confira o texto de Marília Melo, da Folha de Pernambuco
Arthur de Souza/Folha de Pernambuco
Natural de Guiné –Bissau, Lilian Mendonça, 23 anos, mora há três em Pernambuco
O vídeo “Retrato sem retoques”, produzido Grupo de Estudos e Pesquisas em Autobiografias, Racismos e Antirracismos na Educação (Gepar), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para alertar sobre o problema, causou indignação aos coordenadores. Nos relatos, intercambistas africanos narraram à exclusão enfrentada em sala de aula e nos corredores da universidade. Sem conseguir fazer amizades, os africanos andam em grupo, estudam e fazem trabalhos sozinhos. O caso será investigado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que a guarda o envio do vídeo para recolher depoimentos. A UFPE tem 66 intercambistas africanos.

“Sou uma professora negra e os estudantes africanos se identificam comigo. Ouvi relatos assustadores. Que vão além de acreditarem que os africanos não são inteligentes, que não têm capacidade. Eles relataram que os colegas de classe sequer se aproximam, temem que transmitam doenças contagiosas”, lamentou Auxiliadora Martins, 56, professora do Departamento de Pedagogia da UFPE e líder do Gepar .

Natural de Guiné –Bissau, Lilian Mendonça, 23 anos, mora há três em Pernambuco. Está no oitavo período do curso de Economia da UFPE. E nunca teve companhia nos trabalhos da universidade. “Essa história de que o Brasil é um país receptivo, abraça todo mundo, não aconteceu comigo. Estou no oitavo semestre e não faço trabalhos em grupo. As pessoas não me aceitam”, desabafou Lilian, que está entre os africanos que relataram no vídeo a discriminação sofrida na instituição.

Silvia Simbine, 21 anos, é natural de Moçambique e está há mais de dois anos no País. Veio com o intercambista do curso de Psicologia da UFPE. Graças ao seu desempenho, conquistou uma bolsa de estudos para se manter. Mesmo assim, sente os olhares de preconceito. “Não falam diretamente, pois sabem que é crime. É velado. Sinto na pele. As pessoas me olham dos pés a cabeça”, contou.

A promotora do MPPE, Maria Bernadete Figueiroa, que faz parte do Grupo de Trabalho - Racismo lamentou o fato e adiantou que os estudantes têm que ser respeitados. “É preciso que a universidade tenha uma politica interna, que tenha um olhar sobre essa situação. Isso é uma questão de racismo institucional. E a UFPE tem que sabe lidar com a situação”, argumentou, adiantado que aguarda o vídeo com relatos dos estudantes para formalizar a denúncia contra a instituição.

Responsável pelo Programa de Estudantes Estrangeiros da UFPE, Marcelo Renato Guerino disse que a universidade tem conhecimento de casos de preconceito em relação aos africanos. “Alguns casos foram denunciados. Mas, na maioria das vezes os alunos não buscam a direção ou a coordenação da universidade para formalizar a denúncia”. De acordo com ele, quando a denúncia é feita, o coordenador do curso em questão é informando para que tome uma posição imediata. No então, ressaltou que esses casos são “mais policiais, já que racismo é crime”. De acordo com ele, a cada semestre são realizadas campanhas de combate ao racismo.


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