Por Marco ALBANEZ*
Embora
seja um dos mais corruptos do mundo, moramos num país empreendedor, com belas
praias, progressista, rico, sem terremotos ou tsunamis... Um país de mulatos e negros – que diz não ser racista,
mas é – construído com mão de obra escrava durante séculos. Os senhorios eram ricos e zombavam com o
progresso da civilização ao poder da chibata. Mesmo contra a vontade das
donzelas, os poderosos possuíam as belas moças da senzala. Em pleno Século XXI
nem sei se esse estilo de vida seria aceito. Seria? Sei lá. Na época, a
hipocrisia não reconhecia o trabalhador negro como cidadão, os senhores das
senzalas não reconheciam os filhos bastardos e os políticos governavam para os
senhores das senzalas. Definitivamente, o governo não representava a sociedade
e isso era tido como normal.
Hoje,
embora em tempos diferentes, parece que “pouca coisa mudou”, pois os governos –
em geral –, quem diria, não representam a população, ainda que sob o nome de
democracia representativa. Na verdade, continuamos a assistir a hipocrisia como
mola perversa da política partidária, não importando se o governo seja
socialista, seja republicano, seja democrata, seja um antro de marginais ou
tenha qualquer outro nome pomposo e ilusório para a sua formação. A “raiz
quadrada” não é tão complicada, mesmo para quem não entende matemática – como
eu: vereadores, deputados e senadores em determinadas ocasiões votam de acordo
com as “ordens” dos respectivos partidos políticos, mas na maioria das vezes
porque seus “padrinhos financeiros” ordenam que votem como eles querem. E aí
fica a pergunta: quem a maioria desses trastes representa? Simples: a
hipocrisia política.
Está em todos os dicionários o
significado da palavra hipocrisia: “O ato de fingir ter crenças, virtudes,
ideias e sentimentos que a pessoa, na verdade, não possui.” Tia, prima,
sobrinha, irmã, cunhada, avó, neta ou concubina da traição e da
mentira, a hipocrisia política sustenta, com maior frequência ao passar do
tempo, universos paralelos que nada têm a ver com a física, com a química, com
a espiritualidade... mas sim, por mais paradoxal que seja, com a materialidade.
São os mundos invisíveis da política; os bastidores aos quais poucos têm acesso;
as negociatas nas quais somente os gatunos públicos e “privados” participam. O
engraçado é que uma palavra, sim, uma palavra, pode abrir essa realidade e
desmascarar a hipocrisia. Que palavra? Depende do momento e do governo, mas
perguntem ao Roberto Jefferson, ao Paulo Roberto Costa ou aos Renato Duque, Pedro
Barusco, João Vaccari Neto, Milton Pascowitch Cerveró e outros. Todos com o DNA
do roubo. Todos impudicos.
Antes de tocar na ferida “principal”
da hipocrisia que norteia a nossa política, há um fato que poucos sabem, mas
que abalou o alicerce da política internacional norte-americana, na época. Havia na Califórnia – o Estado mais rico dos
E.U.A. – um jornalista investigativo chamado Gary Webb, ganhador de vários prêmios. Foi ele quem descobriu a
conivência e o acordo bilionário do governo de Ronald Reagan com traficantes de
países da América Central para introduzir no “seu” país o crack em escalas
descomunais. Eram dois os objetivos: um, inundar com a droga os bairros pobres,
em especial aqueles do sul de Los Angeles visando alienar uma geração de jovens
dos guetos das grandes cidades americanas para ações políticas americanas, e o
outro armar os contra da Nicarágua. Com a denúncia – um escândalo político para
aos padrões americanos –, Webb, além de ter que esconder a sua família em
“lugar incerto e não sabido”, foi perseguido pela CIA, pelo FBI, pelo governo
(que procurava destruir a sua reputação), enfim, passou a viver como se
estivesse no inferno – se é que existe. Morreu novo, aos 50 anos, mas deixou um
grande legado para o povo norte-americano.
Lamentável e infelizmente, no nosso
país os três poderes institucionais (uns mais que os outros), sufocados na
afluência de mentiras e socorros aos interesses sórdidos do corporativismo e
amarras políticas, são, na realidade, as raízes da crise moral e das incertezas
que nos impõem a dificuldade de sermos brasileiros convictos. Está-se provando,
a cada escândalo, que os governos – federal (uma bactéria “necessária” a
República), estaduais e municipais (se alguém gritar “pega o ladrão”, ficam
poucas pessoas no “recinto”) – estão-se tornando classes dominantes, mesmo
sabendo que seus atos “esbanjam” insatisfações e conflitos ao proletariado
(sim, pois os ricos continuam cada vez mais ricos, mas as classes média e baixa
tornaram-se o “vento” da “imprestaveldenta” Dilma Rousseff. Evaporaram-se). Como
bem disse o jornalista e professor Laudelino Sardá, “A nação continua marcada
pela pobreza social e, sobretudo, pela descrença nos alicerces da democracia,
justamente em função das armadilhas dos arlequins da política de alcova”. Há de
se registrar que a sociedade brasileira convive com o cúmulo de hipocrisia e
esperteza, que alimenta instabilidades políticas e a descrença popular, em
detrimento do desenvolvimento social e econômico. Num linguajar chulo (gosto
desse termo), é difícil alguém conviver com o que está ocorrendo no Brasil – está
em “estado de coma” e “sobrevivendo” graças aos quase 50 escândalos de 2003 até
agora, destacando-se o “Petrolão”, considerado o maior do mundo. (Mas, aleluia pela existência dos Sérgios
Moro que honram a função que ocupam.) Rui Barbosa tinha razão: “A política é
uma brenha de traições e duplicidades, que mergulha a nação na desconfiança
permanente”. Pergunto: está ocorrendo algo diferente?
O
danado é que vivemos sufocados por
leis, regulamentos, resoluções, decretos, normas e conceitos que obrigam a todo
instante a provar que a maioria dos políticos é desonesta. E Precisa? Por outro
lado, é imperativo aos aposentados até reconhecer firma de sua assinatura em cartório
para que provem que estão vivos. Puta que pariu. (Puta que pariu mesmo.) Tudo
isso decorre da ausência de referências éticas, morais e de credibilidade nas
instituições. A impunidade ganha corpo, estimulando a violência e a banalização
do crime. Ou será que os órgãos competentes não sabem quem, como, onde, o
porquê e o quantum... de tantos desvios dos cofres públicos?
A
crise está séria e isso não há como se negar. Mas, pelo amor de Deus, há hipocrisia
maior na política do que os atos de prefeitos, governadores e até da “rainha”
Dilma Rousseff, em diminuir os seus salários e/ou subsídios em torno de 10%,
bem como os dos funcionários do alto escalão, para economizar uma “picuinha”
com relação ao que é roubado do erário todas as horas? Dá nojo. Economiza um
valor irrisório e “lá na ponta... a situação é outra”, ou seja, a que sempre
foi. Fala sério. E o mais ridículo ainda, é ver o Congresso Nacional aprovando
leis e projetos contra o interesse da nação; quando se sabe que ministro do STF
conversa em segredo com a presidente da República sobre denúncias de processo,
de julgamento. Dá para acreditar? E, como agora, quando o poder executivo
central revela-se improbo e inseguro? Simples: ela não se torna, a conclusão é
lógica: todos os segmentos da sociedade precisam assumir uma profunda reforma,
a começar pelo voto consciente e protestos nas ruas em busca do respeito que os
três poderes lhes devem. O resto é balela, ou, como bem me lembrou “Seu Biu do Carvão”,
ao citar o escritor, filósofo e doutor em igreja Santo Agostinho,
“Uma virtude simulada é uma
impiedade duplicada: à malícia, une-se a
falsidade.”
*Marco ALBANEZ
É
advogado (OAB-PE nº 7.658) e jornalista (AIP nº 2.163 e DRT/PE nº 3.271)
Anselmo Gouveia
ResponderExcluirPrezado Marco.
Neste país rico de tudo, principalmente de pessoas inteligentes, poderíamos ser uma das mais prósperas nações do mundo. No entanto, essas pessoas inteligentes direcionam suas sabedorias para o caminho do crime, como bem vemos na política. Estamos tão carentes de pessoas corretas que sinceramente, estou vendo a hora de vir a tona algo esdrúxulo sobre Sergio Moro, até porque quando não existe "eles" constroem. Enquanto isso vamos a cada dia descobrindo mais sujeira sob do tapete. E para completar o Supremo libera os brinquedindos de luxo de Collor, comprados com nosso dinheiro. Quiçá, bons tempos nao tardem a chegar.
TFA. Anselmo Gouveia.
Caro Dr Marco Albanez, esse seu artigo é uma verdadeira aula sobre o caráter e hábitos dos que vem governando nosso querido Brasil.
ResponderExcluirEXCELENTE CONTEÚDO. ALIÁS, COMO TODOS O QUE VOCÊ ESCREVE. PARABÉNS MARCO. UM ABRAÇO. HORÁCIO ASSUNÇÃO.
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