quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

PMDB escolhe novo líder; saiba o que pensam os rivais Picciani e Motta

Votação para comando da maior bancada da Câmara será nesta quarta. Atual líder, Leonardo Picciani concorre com Hugo Motta, apoiado por Cunha.


Euller Júnior/EM/DAPress


Dividida entre uma ala pró e outra contra a presidente Dilma Rousseff, a bancada PMDB naCâmara dos Deputados decide nesta quarta-feira (17) quem será o novo líder em 2016.

No páreo, estão o atual líder, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aliado do Palácio do Planalto, e o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), próximo do presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Em jogo, está o processo de impeachment da presidente, assim como a tramitação de projetos de interesse de governo, já que o líder do PMDB conduz o maior partido dentro da Câmara.
Embora tenha uma aliança com o PT e ocupe a Vice-presidência da República, além de outros seis ministérios, uma parcela do PMDB defende o rompimento com o governo.
O comando da bancada também é cobiçado porque caberá ao líder indicar os oito integrantes do partido para a comissão especial que analisará o processo de impeachment de Dilma.
A eleição servirá ainda para medir a influência do presidente da Câmara sobre a bancada peemedebista. No ano passado, Cunha capitaneou diversas derrotas ao Planalto, inclusive com a deflagração do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas perdeu forças diante do agravamento das denúncias contra ele.
Picciani, por outro lado, acabou se isolando na bancada ao se aproximar do Planalto e acabou destituído em uma manobra patrocinada por Cunha. Pouco depois de uma semana, conseguiu apoio suficiente para reassumir a liderança e conta com apoio do governo para se manter no cargo.
Confira as opiniões de Picciani e Motta sobre dez pontos:
CPMF
Leonardo Picciani: “Hoje o principal problema da economia é o desequilíbrio fiscal. As pessoas não confiam em fazer investimentos. O remédio que está apresentado é a CPMF. Se não for a CPMF qual será a alternativa? Da outra vez, quando a CPMF não foi renovada, teve um aumento do IOF. Alguma coisa terá no lugar da CPMF. O que não dá é para o país continuar como está”.
Hugo Motta: Precisamos conhecer as razões que o governo tem para sugerir um novo imposto quando o Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Esse será um tema que iremos discutir com a bancada. (...) [Pessoalmente], não estou convencido de que um novo imposto seja o remédio amargo necessário para que a população venha a tomar para resolver a situação do país

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Leonardo Picciani: “Uma coisa é óbvia, clara: não resta dúvida de que o rumo que vai a Previdência vai transformar o país, estados e municípios em uma máquina ingovernável. A reforma da Previdência não surte efeito imediato, porque tem que respeitar os direitos adquiridos, quem já está no sistema. Precisa haver uma regra de transição, mas é preciso fazer algo no futuro porque essa conta não fecha, não vai fechar. É necessário discutir esse tema.”
Hugo Motta: “A reforma da Previdência é necessária. Se não cuidarmos, em dez anos, o país não paga o rombo da previdência. A idade mínima é uma das situações que o Congresso precisa consolidar para que possa ir vencendo esse déficit. (...) Desde que seja bem discutida a reforma e venha amparada por justificativas que tenham a sinalização positiva da sociedade, eu não vejo problema [em ser aprovada no Congresso].”

IMPEACHMENT
Leonardo Picciani: “Eu, pessoalmente, sou contrário. Não vejo elementos que possam, minimamente, levar à afirmação de que a presidenta cometeu crime de responsabilidade. Impeachment não é instrumento para mudar governo de que não se goste, governo que se avalie como ruim. Agora, existem posições divergentes no PMDB. No momento apropriado, caberá ao líder externar a posição da maioria, independentemente da posição do líder.”
 
Hugo Motta: “A minha posição pessoal é contra o impeachment da presidente por todos os motivos: pela ruptura democrática, por não acreditar que esse seja o melhor instrumento para melhorar o país. Mas, a partir do momento que eu me candidato a líder do PMDB, eu irei ser, sem dúvida alguma, o porta-voz da maioria da bancada.”

COMISSÃO DO IMPEACHMENT
Leonardo Picciani: “O PMDB tem deputados declaradamente favoráveis ao impeachment, uma parcela não majoritária; tem uma parcela, também não majoritária, que se declara a favor do impeachment; e tem um grande número de parlamentares que não declaram ou não definiram sua posição, os indefinidos. Teremos, na comissão, pessoas que defendem cada uma dessas posições. Vai ser absolutamente equilibrada a indicação para a comissão.
Hugo Motta: “A comissão do impeachment a ser formada será dividida proporcionalmente. Hoje, a bancada está mais ou menos meio a meio, 50% a favor, 50% contra. Temos oitos membros, iremos botar quatro membros a favor do impeachment e quatro membros contra o impeachment, respeitando o que a bancada é na sua essência, eclética e com vários posicionamentos”.

AFASTAMENTO DE CUNHA DA PRESIDÊNCIA
Leonardo Picciani: "Uma vez aceita a denúncia, se cabe ou não permanência de Eduardo Cunha no comando da Casa, isso é uma decisão que a Casa e o próprio presidente devem tomar com maturidade. Existem parlamentares que são réus e que não permanecem nas suas funções. O que creio é que a Casa deve, cumprindo prazos legais, fazer seu juízo de valor."
Hugo Motta: “Nenhum deputado pode ser previamente condenado. Não é porque o deputado Eduardo Cunha é presidente da Casa que ele tem que ser previamente julgado. Quem vai dizer se ele cometeu irregularidades ou não é a Justiça brasileira, através do Supremo Tribunal Federal. A Câmara tem diversos deputados que enfrentam processo e exercem aqui com tranquilidade o seu mandato, representam o seu estado. (...) Em sendo aceita a denúncia, ele se torna réu, ele não foi condenado.”

DIVISÃO NA BANCADA DO PMDB
Leonardo Picciani: “Creio que não há responsabilidade específica por essa divisão. O que leva a essa divisão são os temas postos. Evidentemente que um tema como o impeachment não une a bancada, nem o partido. E não une a sociedade também. Os procedimentos que adotei como líder sempre buscaram a unidade.”
Hugo Motta: “A bancada já saiu rachada da eleição que ocorreu um ano atrás. O deputado Leonardo Picciani não teve a capacidade para unir a bancada, ele teve um ano para trabalhar essa unidade e não conseguiu pacificar o partido. Pelo contrário. Ele era líder de um bloco, o bloco foi desfeito. Ele era líder do partido, chegou a ser destituído. Voltou por uma pressão de diversos fatores externos e hoje enfrenta uma eleição difícil para a sua recondução, o que demonstra que ele não tem o apoio da maioria ampla dos deputados do PMDB. (...) Em sendo eleito, iremos trabalhar por essa unidade.”

ROMPIMENTO DO PMDB COM O GOVERNO
Leonardo Picciani: “Não acredito sequer que a convenção vá tratar desse tema. Não vejo densidade para que essa proposta seja encampada pela maioria da convenção.”




Hugo Motta: “O PMDB fez parte de uma aliança [com o PT] aprovada em convenção e nós somos parte da chapa que foi votada pela maioria do provo brasileiro. Nada mais natural do que o PMDB participar do governo. O que tenho dito é que, se o PMDB tivesse sido ouvido na hora da tomada das decisões mais importantes, talvez o país não estivesse na mais grave crise que está enfrentando. O PMDB é hoje um partido periférico do governo. (...) E o partido deve decidir até quando essa aliança é boa para a sua história e para o seu futuro. (...) Acho que a convenção tem que tratar da nova executiva partidária e, a partir daí, discutir todos os assuntos, inclusive a aliança com o PT.”

PRESIDÊNCIA DO PMDB
Leonardo Picciani: “O que se busca hoje no PMDB é encontrar a unidade partidária, que passa pelo vice-presidente Michel Temer. Creio que há possibilidade muito grande de chegar a um bom termo. Queremos participação das lideranças que cumpram mandato eletivo, nas decisões da Executiva, que tenham voto. E é isso que tem sido buscado pelo presidente Michel Temer e outras lideranças do PMDB.”
Hugo Motta: “Sou a favor [da permanência do Temer na presidência do partido] porque ninguém melhor do que o Michel Temer para manter a unidade partidária. Ele tem, sem dúvida alguma, o apoio de todos os diretórios dos estados, tem uma simbologia muito forte para o nosso partido porque representa uma figura sempre moderada, comprometida com o país e compromissada com a sociedade”.

PMDB E MINISTÉRIOS
Leonardo Picciani: “Com relação a mais espaço no governo, creio que esse não é um ponto fundamental. O PMDB não exigiu espaço A, B ou C. Evidentemente que o partido quer ser ouvido no processo político. Com relação à escolha de ministros, é uma escolha da presidente da República. Agora, evidentemente nos honrou muito a indicação para a bancada do PMDB de dois ministérios. Não houve até o momento convite para a Secretaria de Aviação Civil e a bancada não exige isso.”
Hugo Motta: “A discussão sobre se a bancada irá participar de nomeação quem vai dizer é a própria bancada. Sendo eleito líder, eu irei trazer se o governo assim vier a sinalizar, porque nós não vamos pedir, o governo é que tem que sinalizar, nós vamos discutir com a bancada e, se decidir que devemos ocupar mais um espaço, vamos ocupar.

AFASTAMENTO DE MINISTRO PARA VOTAR NA ELEIÇÃO DO LÍDER
Leonardo Picciani: “Os ministros são deputados do PMDB e integrantes da bancada. É uma decisão deles. Se julgar necessário agir dessa forma, não vejo nenhum problema. Acho legítimo que o façam. Isso não causa nenhum prejuízo a seus trabalhos e faz com que participem da atividade partidária e de mandato.”
Hugo Motta: “Eu vejo com tristeza [o afastamento temporário do ministro Marcelo Castro]. Enfrentamos a maior epidemia da história recente de saúde do Brasil com uma verdadeira viralização do vírus da zika em todas as regiões do país, com casos de microcefalia e o combate ao mosquito sendo cada vez mais cobrado pela sociedade, o ministro sai, deixa de cuidar de um problema de tamanha monta e vem participar de um problema bem menor, porque trata apenas de um processo político interno de uma bancada na Câmara. É um atestado de falta de compromisso com a saúde do país.”

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