
O
grande acordo entre Eduardo Cunha, Michel Temer, Centrão e outros partidos
governistas para salvar o mandato do ex-presidente da Câmara será vitorioso
pelo menos em sua primeira fase: vai ficar mesmo para agosto o exame do
processo de sua cassação pelo plenário. Assim será ainda que Cunha, como tudo
indica, seja derrotado na Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, onde,
depois de uma fala de quase três horas de seu advogado, foi o próprio Cunha
quem se defendeu.
A votação de seu recurso, parcialmente acolhido pelo relator,
pedindo que haja uma nova votação no Conselho de Ética, que seria nesta
terça-feira, foi adiado para a manhã desta quarta, com a continuação da fala
dos deputados inscritos. Rejeitado o parecer, como tudo indica que será, o
processo vai ao plenário. Mas agora, o tempo acabou. Amanhã o dia será tomado
pela eleição do novo presidente da Casa e depois todos irão se escafeder.
- Já ficou para agosto. E depois já sabemos a toada com que o
assunto será tocado. Em agosto, vamos esperar a Olimpíada terminar. Em
setembro, vamos esperar a eleição municipal passar. E enquanto isso ficaremos
aqui com este cadáver insepulto conturbando o processo – profetiza o deputado
Chico Alencar, do PSOL-RJ.
O adiamento da votação da cassação para agosto foi obra de Cunha
e sua base aliada, mas quem o garantiu mesmo, ao controlar o tempo na CCJ, foi
o grande moralista Osmar Serraglio, que como relator da CPI dos Correios, pediu
a cassação de 18. Hoje, como presidente da CCJ, dedica-se a salvar o mandato de
Cunha.
O
risco Severino
deputado Marcelo de Castro foi ungido candidato do PMDB,
surpreendendo o Planalto e colocando em risco a vitória do candidato de Cunha e
do Centrão, Rogerio Rosso, Isso estragou o jogo inicial: haveria outro
candidato do PMDB, e o menos votado apoiaria o outro na rodada final.
Qualquer solução seria boa. Mas com Castro, que não é submisso a Cunha nem a
Temer, o esquema fugiu do controle palaciano. Mais uma vez, a política
mostra que não é ciência exata. Os homem põe, o imponderável dispõe. Castro pode
ganhar apoio de parte das esquerdas e pode vencer. O grande número de
candidatos pode também produzir uma surpresa.
- Quando a divisão é grande, tudo pode acontecer. Inclusive a
repetição do fenômeno Severino – diz o experiente deputado José Carlos Aleluia
(DEM-BA). Foi numa eleição com muitos candidatos que o bizarro Severino
Cavalcanti elegeu-se presidente, durando apenas seis meses no cargo.
Na lista de candidatos, não faltam perfis que lembram Severino.
Cunha
fez escola
Na véspera da escolha do novo presidente da Câmara, não se vê na
Casa qualquer sinal de esforço para mudar a cultura e os métodos que, sob
Cunha, com o baixo clero dando as cartas e a elite parlamentar quase
desaparecida, levaram a Câmara a seu ponto mais baixo desde a restauração
democrática.
Debate sobre o programa de cada para recuperar a credibilidade
da Casa, nenhum. Mas no salão verde e nos corredores, dezenas de mocas bonitas
e simpáticas distribuem panfletos dos muitos candidatos. Ganham R$ 100 por dia.
Aparentemente mais abonada, a deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto
Jefferson, foi a que mais imprimiu papel.
E nos bastidores,
tome negociações de cargos e favores
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