Se
houvesse dúvida sobre o significado da expressão "cretinismo
parlamentar", os principais partidos da esquerda brasileira correm o risco
de esclarecê-la cabalmente.

Setores relevantes das bancadas do PT e do PCdoB na Câmara dos
Deputados, ao flertar com o apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a chefia da
casa, apresentam-se para queimar em praça pública a bandeira da luta
antigolpista.
Traduz-se como vergonha e erro grosseiro, afinal, a simples
especulação sobre a possibilidade de alinhamento com um dos expoentes da
campanha do impeachment da presidente Dilma Rousseff, além de representante
visceral da agenda conservadora.
Vale mesmo a pena dar um tapa na cara da resistência democrática
e popular, em troca de duvidosos benefícios no jogo interno e de fantasiosa
expectativa na divisão da base do governo Temer?
Não ocorre aos defensores dessa iniciativa o perigo real e
imediato de desmoralizar o discurso que vem permitindo unificar as mais
diversas vozes progressistas, marcado pela demarcação incontestável de fronteiras
com o campo do golpismo?
Aqueles que defendem essa aventura parecem fechar os olhos às
mudanças da situação política, que deveriam obrigar a uma ampla revisão do
esquema de raciocínio que, convenhamos, levou a esquerda à beira do precipício.
Antes de mais nada, o centro espacial da acumulação de forças,
do ponto de vista das correntes populares, se deslocou para a luta social. A
consolidação de uma maioria antidemocrática que capturou o governo, o
parlamento e as demais trincheiras do Estado transforma em fluxo principal o
cerco das instituições pelas ruas, a serviço do qual deveriam estar as batalhas
e manobras parlamentares. Nada do que esfria ou divide o povo em movimento
deveria ser nem sequer cogitado.
O que mais a esquerda precisa, nos dias que correm, é recompor
sua identidade e fundi-la outra vez com os anseios de sua base social
histórica, mesmo que o custo disso seja um período de relativo isolamento, como
é próprio dos ciclos políticos que sucedem às derrotas.
Obviamente que tal perspectiva não elimina a necessidade de
alianças e pactos, mas deveria subordiná-los ao objetivo, nessa etapa
defensiva, de reconstruir o núcleo duro do bloco político liderado pelo PT.
A esquerda poderia apoiar um candidato de centro que tenha
votado contra o golpe, por exemplo, mas se associar a um representante da
intentona contra a presidente Dilma Rousseff é flagrante tiro no pé. Melhor
perder com um nome de suas próprias fileiras do que colidir, mais uma vez, com
o sentimento do asfalto
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