Muito embora nenhum jornalista tenha nos procurado ou pedido nosso apoio ou nossa solidariedade, nosso Blog se sente no dever de se solidarizar com os trabalhadores tanto do Diário de Pernambuco, como da Folha de Pernambuco que têm sido vítimas de atrasos de salário, bem como de situações degradantes em suas condições de trabalho, além de ameaças de retaliações por causa de suas justas reivindicações.
Nossa posição em nada se difere, portanto, daquela que temos
manifestado com relação aos trabalhadores de forma geral quando vítimas de maus
empregadores.
Tomamos conhecimento, por meio de postagens feitas nas redes
sociais, pelo SINJOPE, Sindicato que agrega os profissionais de impressa do
Estado de Pernambuco, de que esses dois órgãos da imprensa de nosso Estado
estariam atrasando salários. Essa situação seria recorrente na Folha de
Pernambuco. Já no Diário, o atraso no pagamento foi reportado pela primeira
vez, este mês, entretanto, há dois anos, os empregados do mais antigo jornal em
circulação na América Latina estariam sem receber qualquer reajuste, nem mesmo
a reposição inflacionária teria sido garantida.
É sabido que os três principais jornais de Pernambuco são
comandados por empresários sem qualquer compromisso com o Jornalismo. O
compromisso dos donos do Diário, da Folha e do Jornal do Commercio é apenas com
o lucro e com as vantagens pessoais que ser o dono e senhor da informação pode
lhes trazer, seja ocultando-a, seja manipulando-a, seja para obter patrocínios
milionários junto aos mais diversos órgãos públicos, enfim, seja para
interferir no processo político-eleitoral do Estado.
Nesse sentido seria demais esperar que empresários que só
veem em seus negócios um meio de obtenção de vantagens pessoais tratassem
empregados de maneira diferenciada, ainda que esses empregados sejam
jornalistas, profissionais que pela própria natureza de seu trabalho são, sim,
profissionais diferenciados.
Mas o jornalismo, de há muito, para os donos de jornais,
deixou de ser jornalismo, passando a ser apenas "negócio".
O dono do Jornal do Commercio é um megaempresário do ramo da
construção civil e de shopping centers (Grupo JCPM). Já o dono da Folha de
Pernambuco é um empresário do ramo usineiro (Grupo EQM).
Mas quem são os atuais donos do Diário de Pernambuco, que
adquiriram o matutino já de um outro grupo empresarial, o HAPVIDA, sabendo que
o Diário amargava prejuízos mensais milionários?
Quem são essas pessoas que revertem a máxima capitalista que
norteia todo empresário de "jamais colocar dinheiro bom em negócio
ruim"?
Consta que o Diário de Pernambuco teria sido adquirido pelo
Grupo Rands, pertencente aos irmãos Maurício e Alexandre Rands. Mas de onde vem
a fortuna desses irmãos que de maneira tão desprendida resolveram colocar seu
dinheiro "bom" num negócio "ruim" que, repita-se,
sabidamente amargava prejuízo milionário já no momento em que foi repassado às
mãos dos Rands? Que tanto amor foi esse ao jornalismo que esses não jornalistas
teriam alimentado, para comprar o Diário, mesmo sabendo que com este só
amargariam prejuízo?
Por uma peça dessas que o destino costuma pregar nas
pessoas, Maurício Rands teria ficado rico advogando para sindicatos de
trabalhadores em ações contra a patronal. Era ligado à CUT. Um militante da
esquerda na luta contra os maus patrões que exploram a classe trabalhadora.
Foi essa sua ligação com o PT, com a CUT e com sindicatos
que o cacifou para assumir a Secretaria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura do
Recife, na primeira gestão de João Paulo.
Ali, Maurício Rands começou a sedimentar seu caminho para
uma carreira política e foi ali que lutou para que empresas que exploram a mão
de obra do chamado ciberproletariado que se instalassem ali pelo Porto Digital,
tivessem benesses fiscais, empresas como a de seu irmão, Alexandre Rands, a
Datamétrica, que de uma pequena empresa de pesquisas eleitorais, veio a se
transformar numa megaempresa prestadora de serviços de telemarketing que
conseguiu, por exemplo, durante o governo Lula, um contrato de R$ 60 milhões
para fazer o telemarketing do INSS, apenas no Recife e em Salvador (Leia
AQUI).O contrato do MPS com a Datamétrica surgiu quando Rands já era deputado
federal, pelo PT. Na época, Rands fora eleito com seu discurso em defesa da classe
trabalhadora e dos direitos sociais.
Depois de não conseguir ser o candidato do PT à prefeitura
do Recife, Maurício Rands lança uma carta cheia de amargura contra o PT e
contra a política, renuncia ao mandato de deputado federal (Leia AQUI) e se muda
para a Holanda, onde vai ser empregado do empresário Roberto Viana, dono da
Petra e velho conhecido do povo pernambucano de episódios como o escândalo dos
Precatórios (Leia AQUI).
A CPI dos Precatórios começou a investigar o que considera
os primeiros indícios de ligações entre o esquema dos títulos públicos e o
financiamento de campanhas políticas.
A CPI determinou ontem à Polícia Federal que tome depoimento
do empresário Roberto Viana, que ocupou duas secretarias na gestão do
ex-governador de Pernambuco Joaquim Francisco, sobre suas ligações com o Banco
Vetor e autoridades nos Estados.
Na última eleição, Viana coordenou as campanhas eleitorais
dos governadores Tasso Jereissati, do Ceará, e Roseana Sarney, do Maranhão.
No ano passado, depois da emissão de títulos coordenada pelo
Vetor em Pernambuco, o empresário teria tentado "vender" uma operação
semelhante para o governo maranhense.
O empresário Ronaldo Ganon, um dos sócios do Vetor,
respondeu com um "pode ser" quando perguntado pelo senador Esperidião
Amin (PPB-SC) sobre a atuação de Viana como contato entre o banco e o Maranhão.
A empresa de consultoria de Viana, chamada Polo, está
instalada ao lado do escritório da corretora Perfil, em Recife, segundo o
deputado estadual Paulo Rubens (PT).
A Perfil foi usada como empresa de fachada pelo
ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo Wagner Ramos, que
assessorou o Vetor nas operações de Pernambuco e Santa Catarina.
Viana tem ligações familiares com o secretário da Fazenda de
Pernambuco, Eduardo Campos, que fechou o contrato com o Vetor para a emissão
dos títulos.
O empresário é casado com Malu Viana, irmã de Vanja Campos,
que é tia de Eduardo Campos e assessora do governador Miguel Arraes, segundo
Rubens.
Viana não foi localizado ontem em sua empresa. A Folha
também ligou para a assessoria de Eduardo Campos e pediu um contato com o
secretário. A assessoria respondeu que Campos estava em uma reunião e que
Roberto Viana nada teve a ver com as emissões de títulos de Pernambuco.
Depois disso, Maurício Rands retorna à vida pública, não
como protagonista, como sempre gostou, mas como mero coadjuvante das famílias
Andrade Lima/Campos, coordenando a campanha de Eduardo Campos, do PSB, que, com
sua morte, foi substituído por Marina Silva.
O ex-político de futuro promissor, que um dia sonhou em ser
prefeito do Recife e, quiçá, até governador de Pernambuco, agora se envaidece
posando como dono do Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal em circulação
da América Latina. Mas será que é motivo para tanto orgulho mesmo para alguém
que enriqueceu às custas da defesa das causas sociais, hoje posar como
empresário da mídia enquanto atrasa os salários de jornalistas e funcionários
do "seu" Jornal?
O salário teria sido pago à zero hora de hoje, depois que a
notícia sobre um editorial bizarro, publicado pelo Diário, chamando o protesto
feito pelos jornalistas que pararam na véspera, reivindicando o pagamento de
seus salários, de "piquenique" ganhou as redes sociais.
No Facebook do SINJOPE, lemos indignados, que, na Folha de
Pernambuco, à chegada dos manifestantes do Diário ao prédio da primeira,
convocando os companheiros para aderirem ao protesto, já que sabidamente, diz a
postagem, a Folha é uma empregadora que, de maneira contumaz, atrasa salários,
décimo-terceiro, férias e não deposita o FGTS dos trabalhadores, a "chefia
de reportagem convocou reunião de emergência e proferiu aos demais editores,
segundo relatos de quem estava presente: 'quem descer sofrerá as
consequências'. Em seguida, editores teriam repassado a ameaça adiante: 'quem
aderir será demitido'. No fim da tarde, mais uma ação de coação: 'os repórteres
estão sendo orientados a não descer nem para comer e estão dispensados do
intervalo.'":
Fonte: Facebook do SINJOPE
Que a Folha de Pernambuco aja com tal truculência contra
seus empregados não nos surpreende, tendo em vista denúncias que já foram
divulgadas pela mídia nacional e pela Blogosfera (leia Usina de família de novo
ministro foi flagrada cinco vezes com escravos e Com “linhagem de patrão”,
Armando Monteiro preocupa sindicalistas), relacionadas com o modus operandi de
outras empresas do mesmo grupo, com relação a seus trabalhadores que teriam
sido levados à condição análoga a de escravos. Vejamos:
Fonte: Blog do Sakamoto
Fonte: Carta Capital
É lamentável ver que profissionais da excelência dos
jornalistas de Pernambuco, reconhecidos pela vasta lista de prêmios regionais e
nacionais que recebem, ano após ano, por seus próprios méritos e não de seus
patrões, isso é evidente, tenham que se submeter a todo tipo de capricho e
humilhação advindas de quem só tem compromisso com seus próprios interesses,
mas não é desprezível o fato de ver alguém com o histórico de Maurício Rands se
transmudar de defensor ferrenho e dedicado da classe trabalhadora em seu algoz.
Esse é mais um ingrediente amargo dessa salada cujos componentes jamais
deveriam se misturar: jornalismo e empresários.
Nós, da Blogosfera, temos um papel muitas vezes
incompreendido, mas apesar disso continuaremos a exercê-lo. Nosso papel é
trazer a público "a dor da gente" que não sai no jornal. A dor dos
jornalistas, assim como muitas dores que temos denunciado, jamais sairá nos
jornais, mas em nossos Blogs, nossas páginas estarão sempre abertas e
disponíveis para trazer a público todas as dores, seja quem for algoz.

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