Num dia, a presidente janta com o PMDB e
sela a parceria com Michel Temer; no outro, dá carinho ao PSB, de
Eduardo Campos, que foi lançado a vice por integrantes da legenda; é
possível abrigar os dois no mesmo espaço?
Afagos & empurrões
Denise Rothenburg
Para quem tem entre os congressistas a imagem de durona e
avessa a conversas políticas, a presidente Dilma Rousseff termina esta
semana com jeito de quem começa a mudar esse tom. Ao primeiro movimento,
o jantar com o PMDB, veio outro em 24 horas, o jantar com o PSB. Dois
encontros recheados de afagos em que Dilma deixou claro que quer os dois
ao seu lado. O problema é a lei da física. Dois corpos não podem ocupar
o mesmo lugar no espaço. E aí começa o jogo de empurra, onde todos os
atores, inclusive a própria Dilma, mostram suas armas.
Vejamos os movimentos da presidente. Ontem, depois dos
jantares e dos afagos aos dois principais partidos da sua base, PMDB e
PSB, ela aproveitou a solenidade de lançamento do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa para enaltecer o governador do Ceará, Cid
Gomes (PSB). O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, um dos mais
próximos da presidente, com quem ela discute todas as questões
estratégicas do governo, pediu licença para quebrar o protocolo. Foi ao
microfone, dispensou o locutor oficial e, de viva-voz, enalteceu o
trabalho de Cid Gomes na área da educação no Ceará.
Para muitos, o gesto de Mercadante foi jogo combinado com a
chefe. Nenhum conhecedor dos humores de Dilma ousaria voltar ao
microfone dentro do Planalto sem a permissão dela. Depois, o governador
ainda foi almoçar com a presidente. Cid Gomes há tempos não tinha um
tapete vermelho tão novo para pisar no palácio. Foram tantos afagos que
só faltou a proposta de um ministério para Ciro Gomes — o que setores do
PSB comentavam na semana passada como uma possível jogada no sentido de
enfraquecer Eduardo Campos dentro de seu próprio partido, tirando
inclusive qualquer chance de que o presidente do PSB possa reclamar.
O governador cearense, vale lembrar, tão logo terminou a
eleição municipal, fez questão de avisar que Dilma era sua candidata a
presidente da República. Seu irmão, Ciro Gomes, que tentou se lançar à
Presidência em 2010, mas foi impedido pelo PSB, está hoje cuidando da
vida, sem mandato. Ontem, depois de parte da série de afagos palacianos,
Cid saiu-se com essa: se o PMDB ficar com a Presidência da Câmara e do
Senado, por que o PSB não poderia ficar com a vice de Dilma?
A declaração de Cid foi vista como maldade pura por todos
os atores envolvidos nessa história. Primeiro, que ninguém é “candidato a
vice”. A vice é consequência de acordos políticos. Por isso, há quem
tenha visto nessa proposta não um afago a Campos, mas uma tentativa de
“queimá-lo” e ainda deixar o PMDB desconfiado. O PSB não tem sequer
metade dos votos do PMDB no Congresso e Dilma não precisa colocar
Eduardo Campos na vaga de vice-presidente para ter o PSD de Gilberto
Kassab ao seu lado. O prefeito hoje tem a quarta bancada, o que lhe dá
autonomia. Tanto é que estará com Dilma na semana que vem. Portanto,
Dilma não tem hoje como “dispensar” o PMDB.
E entre os socialistas…
Os aliados de Eduardo Campos não entenderam muito bem por
que tantos afagos de Dilma a Cid Gomes no dia seguinte ao jantar com
Eduardo Campos e o vice-presidente do partido, Roberto Amaral. Afinal,
em termos numéricos, a hegemonia do partido está com Eduardo Campos e
dois movimentos deixam isso muito claro. O primeiro foi em 2010, quando
Ciro Gomes quis ser candidato a presidente. O segundo foi no ano
passado, quando Cid e Ciro tentaram fazer de Gabriel Chalita, então do
PSB, líder da bancada na Câmara. Chalita obteve três dos 34 votos. Quem
venceu foi a deputada Ana Arraes, mãe de Eduardo, hoje ministra do
Tribunal da Contas da União.
Pelo que se sabe, 2014 não entrou na conversa de Dilma e
Eduardo Campos na noite de quarta-feira, e nem poderia. Afinal, Dilma
ainda não avisou com todas as letras que será candidata e Campos já
cansou de dizer que não tratará de 2014 agora, pois discutir a próxima
eleição neste momento seria jogar contra o Brasil. Mas, para os
socialistas, está claro que, se Dilma pensa em sufocar a candidatura de
Eduardo Campos afagando Cid Gomes, o efeito pode ser o inverso.
Enquanto isso, no Jaburu…
Com toda essa confusão, o próximo passo dessa história é o
PMDB cobrar e Dilma mais uma vez reforçar — como já disse lá atrás —
que, se for candidata à reeleição, repetirá a parceria com Michel Temer.
A ordem entre os peemedebistas é procurar fazer a menor marola possível
para eleger os presidentes da Câmara e do Senado. Entre os deputados, a
campanha de Henrique Eduardo Alves é feita à luz do dia e a ideia é, já
na próxima semana, começar a tratar da proporcionalidade para os demais
cargos da Mesa Diretora.
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