Cineasta Luiz Carlos Barreto diz que cartunistas do Charlie Hebdo, assim “como os mergulhadores que ultrapassam os limites, foram tomados pelo delírio das profundezas”; “Não podemos transformar a liberdade de expressão em dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e podem gerar posições extremistas”; diz ainda que o Brasil pode servir de exemplo de democracia racial
247 – O cineasta Luiz Carlos Barreto acredita que os cartunistas do Charlie Hebdo ultrapassaram o limite aceitável da liberdade de expressão. Diz que o Brasil pode servir de exemplo de democracia racial. Leia:
Não podemos transformar a liberdade de expressão em dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e podem gerar posições extremistas
Podemos pôr em risco a segurança e a vida de outras pessoas em nome da liberdade de expressão e do livre pensar? A liberdade de opinião e o direito de expressá-la são uma conquista social, não apenas um direito individual para servir aos interesses e ao narcisismo de pessoas ou de grupos. Portanto o livre exercício do direito de opinar, criticar, caricaturar e denunciar exige reflexão, responsabilidade e ética.
Podemos pôr em risco a segurança e a vida de outras pessoas em nome da liberdade de expressão e do livre pensar? A liberdade de opinião e o direito de expressá-la são uma conquista social, não apenas um direito individual para servir aos interesses e ao narcisismo de pessoas ou de grupos. Portanto o livre exercício do direito de opinar, criticar, caricaturar e denunciar exige reflexão, responsabilidade e ética.
Os talentosos desenhistas e chargistas do jornal satírico "Charlie Hebdo" mergulharam fundo naquilo que abraçaram como missão: criticar, caricaturar e satirizar os poderes político, econômico, religioso e social. Como os mergulhadores que ultrapassam os limites, foram tomados pelo delírio das profundezas. Desafiaram a minoria extremista e fanática do islamismo.
A sátira focando personagens e situações do cotidiano francês e internacional tornou-se a marca do sucesso do "Charlie Hebdo". Mas o sucesso sempre tem bônus e ônus.
Algumas "vítimas" do "Charlie", entre elas líderes políticos, religiosos e celebridades, reagiram com processos judiciais e ameaças. A Redação do semanário chegou a sofrer um incêndio criminoso em 2011.
Mesmo diante dessa situação ameaçadora, a turma do "Charlie" não baixou o nível do seu poder de fogo satírico, em uma demonstração de uma coragem suicida, como definiu o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, em artigo no "Le Monde" em 8 de janeiro.
Agora os dados estão sobre a mesa: o Estado, o governo, o povo francês e até a União Europeia estão na incômoda e obrigatória situação de responder a um ato de barbárie causado pela irrefletida troca da sátira pelo insulto e pelo desrespeito à fé e à crença de grupos minoritários de radicais fanáticos, que fazem uma leitura errada do Alcorão.
Neste momento, passada a comoção que o episódio trágico nos causou, chegou a hora da reflexão e da discussão sobre o tema da liberdade de expressão, questão basilar para o Estado democrático de Direito.
Não podemos transformar a liberdade de expressão em um dogma, pois os dogmas são antidemocráticos e geram autoritarismo e posições extremistas. Aliás, na Europa e nos EUA, essa discussão está em curso, e seria muito saudável que nós, brasileiros, iniciássemos essa reflexão que tanto nos faz falta.
Outras reflexões mais profundas devem ser feitas e a mais transcendente de todas diz respeito à forma de convivência entre as culturas ocidental e oriental. São duas estruturas de pensamento, hábito, costumes, idiomas, religiosidade, crenças e sistemas políticos. São concepções e estilos de vida diferentes e que começaram a se revelar um para o outro, com o auxílio dos meios de comunicação de massa.
É preciso que nós, ocidentais, façamos uma revisão dos nossos conceitos e do nosso modo de relacionamento com os povos da banda oriental do planeta. Vamos nos despir da roupagem de colonizadores que sempre se relacionaram pela dominação, pelo subjugo e humilhação dos povos colonizados.
O Brasil tem muito a contribuir com seu exemplo de democracia racial, que foi muito além da mestiçagem, produzindo um amálgama que, no dizer de Darcy Ribeiro, vai resultar em um novo modelo civilizatório para a humanidade

Infelizmente, o terrorismo se alastra no mundo e não vejo interesse verdadeiro, por parte das nações, para um ponto final do terror (sem guerras, sem mais mortes), por parte das nações de destaque no cenário econômico e político. Vejo isso, alimentarem a guerra entre judeus e palestinos (e/ou muçulmanos), porque vale mais o lucro que gera dessa briga que manter a vida, o bem maior de todo ser humano.
ResponderExcluirEu acredito na capacidade do homem de expor suas ideias com uma postura honrosa. Não se ganha no grito e/ou deboche. A psicologia diz que o ser humano sem argumento, preconceituoso, intolerante e revoltado, ou mesmo movido pela inveja é que recorre à tais artifícios. Quando chega nesse ponto, sua inteligência emocional já está totalmente comprometida. Com isso, quero dizer que é com a inteligência emocional e/ou inteligência social que a sociedade avança, rever conceitos, reformula leis, combate a corrupção, e por aí vai.
A liberdade de expressão é seguida da ética e vai até onde chega à liberdade de expressão do outro. Macula-se à liberdade de expressão usada de forma desrespeitosa e irresponsável, resultando muitas vezes em casos de terrorismo, guerras e na chacina lamentável dos profissionais do Charlie. Com certeza, nesse cenário da liberdade de expressão os fundamentalistas muçulmanos não se encaixam, vivem como a Igreja Católica se portava na Idade Média.
Quando a frase "eu sou Charlie" é divulgada, inflama sim o terrorismo e valida o apoio às charges de desrespeito ao direito e aos dogmas de uma religião. Charlei quer liberdade de expressão? Certíssimo! Então, deve respeitar a liberdade do outro escolher a sua crença. Não se pode confundir liberdade de expressão com deboche, escárnio e humilhação. És aí o perigo do "eu sou Charlie". As charges desse jornal são de humor ácido e sempre com um toque de obscenidade e deboche, por isso trago como pano de fundo o direito à crença religiosa. Cada um tem o direito de ter a sua e não cabe à ninguém censurar esse direito. Essa é a questão, no meu ponto de visto, com todo respeito ao seu.
E, infelizmente, jornais similares ao Charlie há aos montes, com esse humor ácido e não vamos muito longe. Aqui no Brasil tem CQC, Pânico na Tv, para citar algumas que hoje estão sendo processados em razão desse "humor" de escárnio, comportamento da mídia sensacionalista que cada vez mais vem instaurando essa modalidade de "jornalismo".
Contraditória a liberdade de expressão do Charlei que censura com frequência o direito do outro de ter uma religião, uma crença. Isso é de uma contradição abusiva e arrogante, ao ponto de colocar em perigo a vida deles e de muitas pessoas. Liberdade de expressão é seguida da ética. A liberdade de expressão não pode ser comparada com xingamento, deboche, escárnio e denegrir a imagem do outro, agressão física e muito menos matar por não concordar com o pensamento do outro (como os terroristas fizeram com os cartunistas). Assim, também é o escárnio, a humilhação e a intolerância. Ressalto, ainda, que tais comportamentos causam danos psicológicos numa pessoa, e isso é muito sério. E por favor, não estou me referindo aos terrorismos, mas a esse tipo de humor de escárnio que vem se popularizando, porque rende dinheiro. Rir da desgraça dos outros, ver o outro humilhado ainda é uma postura de muitas pessoas, desde que não seja com elas.
Por isso, tenho que dizer: je ne suis pas Charlie e digo mais: #JeSuisDeLuxe. Respeito quem é Charlei, mas #EuNãoSouCharlie