segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ELEITOR VIRA-CASACAS

Por Marco ALBANEZ*

          Há uma “regra imoral” que tem norteado as atitudes políticas de muitos brasileiros e que tenho procurado entender – e “entendo” –, que é a predisposição de votar em quem tem reais chances de vencer uma eleição ou em que está disparado, na frente das pesquisas eleitorais. Alguns deles sob a argumentação de não querer perder o voto, e outros, os “insetos que se dizem políticos”, pelo “simples” fato de não desejarem deixar o poder, já que os seus interesses são maiores que o seu idealismo e a sua “maturidade” política, os quais não deveriam se sobrepor àqueles que buscam cumprir o seu dever cívico. No caso presente, não estamos falando dos políticos profissionais que mudam de posição facilitados pela promiscuidade partidária reinante, mas da postura fisiológica do eleitor – os conhecidos vira-casacas, que não têm qualquer convicção política e muito menos lealdade aos seus candidatos.

         Na verdade, essa iniciativa dos vira-casacas tem-se registrada em todos os 5.570 municípios brasileiros (até 31 de dezembro de 2012, eram 5.565). Em São Lourenço da Mata, nem se fala. Aliás, nas entrelinhas deste texto, farei alusão a alguns desses “insetos” (com “nomes símbolos”) que, com as graças de Deus, de Alá, de Maomé, de Buda e os ensinamentos das bíblias católica e evangélica, além do Corão, estão com os seus dias contados, pelo menos, como diz o blogueiro Magno Dantas, na “ex-Cidade da Copa”. A propósito, quem, com juízo perfeito, muda de time de futebol? Quem, após construir uma carreira profissional, com muita luta e dificuldade, tornando-a digna e respeitosa, muda de profissão? É possível que sim, mas não aquele que tenha um mínimo de decência, apesar de na política muitos “germes saírem de um corpo e contaminarem outro” visando continuar onde está, mesmo que seu “antigo chefe” tenha sido o adversário e/ou inimigo do seu “novo prefeito”.

         Tendo como pressuposto uma sociedade democrática na qual existam, de verdade, direito, deveres e obrigações, é natural que o voto consciente possa ser alternado de acordo com a convicção do eleitor. Todavia, uma pessoa mudar de lado por oportunismo e interesse não deixa de ser um ato de covardia, nojento, espúrio, maligno... Neste último caso, os exemplos são muitos. Vejamos na cidade de São Lourenço da Mata: alguns Severinos, Joãos, Antonios, Manuéis – ou alguns Judas? – estão-se tornando “mais conhecidos que o extraordinário jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento (Pelé) e talvez até mais que o Papa Francisco”, pois sai prefeito, entra prefeito e eles continuam no poder, já que fizeram ou faz a opção poucos meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos, décimos de segundo antes da eleição, jogando no lamaçal seu até então “querido comandante” para pegar carona no novo governo, o “seu novo amado”. Não sou de adivinhar acontecimentos, não sou “Pai de Santo”, não leio cartas... mas posso adiantar que os dias desses fariseus, bandidos, canalhas, oportunistas, pústulas, traidores, sacanas, “artistas”, puxas-saco... estão contados. E estão mesmo, pois não passam de vândalos de comportamento espúrio. É que eles não têm ou não tinham comprometimento com as causas e o trabalho do governante abandonado que, por sua vez, fica aguardando a próxima oportunidade para ter de volta esses seres infectados pela bactéria da podridão. Mas há uma outra questão. Quem é o pior dos dois: o vira-casacas ou o candidato eleito que lhe acolhe, sabendo que na eleição seguinte poderá ser abandonado? Mas, quer saber? Eles agem como se mudar de candidato fosse tão comum como trocar de camisa a cada festa paroquial. Pelo menos era, mas não será mais. (Espero.)

          No mundo inteligente não existe mais espaço para a jogatina política desses salafrários e oportunistas. E por isso, principalmente por isso, eles haverão de naufragar nas próprias lágrimas do “arrependimento”, da falta de amparo (merece?), da derrota, do manuseio do que não lhes pertence – e não falta muito tempo. Na realidade, como bem frisou o jornalista Rogério Arioli, “As circunstâncias exigem que paremos de torcer apenas para quem tem chances de ganhar, pois quem acaba perdendo, como castigo, é a própria ‘raça’ dos vira-casacas”. E o danado é que essa raça desgraçada, desprezível e de um odor insuportável, não está em extinção. Muito pelo contrário: está em evolução. (Na “minha” cidade, apenas por mais uma dezena de meses e disto tenho certeza.)

         É sabido que a política “sangra” a alma, a mente e, se brincar, os ossos depois de depurar a carne, além de transformar pessoas. Num enfoque mais genérico e não muito diferente do exemplo que foi dado – a respeito dos vira-casacas de São Lourenço, considerados verdadeiros urubus em busca de carniça –, alguém lembra-se quais foram as circunstâncias que deram a vitória a Tancredo Neves? Sim, aquele que em 1985 ganhou a eleição – indireta – presidencial e não tomou posse? A situação – militarista – tinha como candidato ao cargo máximo da República o ex-governador e ex-prefeito de Sampa (atual deputado federal Paulo Maluf). Pois é, ele conseguiu juntar pessoas heterogêneas em temperamento, caráter e posição política, oportunistas, traidoras, mentirosas, corruptas... e ganhou a eleição. O principal vira-casaca? José Sarney, o “dono” do Maranhão e homem mais forte da Arena, PDS, PFL e sei mais lá o quê! Na minha parca visão política (e já falei sobre isso num artigo anterior) pensei que seria difícil, ou impossível, juntar óleo com água. Pois não é que Tancredo conseguiu essa proeza? Tanto por méritos próprios, como pela adesão de políticos de todos os partidos, pois viam nele o futuro presidente e todos queriam tirar proveito, literalmente. O engraçado é que José Sarney foi o candidato à vice-presidente do político mineiro. Com a morte de Tancredo, ele assumiu a presidência... E deu no que deu!

         Não adianta choro, nem vela. Por uma questão de cultura, a política partidária brasileira foi, é e deverá continuar sendo assim por muito tempo, mas, ao menos em São Lourenço da Mata, o fim dos vira-casacas está sacramentado. Pena que, sem moral, cegos porque pensam estarem enxergando “vantagens” que poderão ter (coitados!) e surdos por não ouvirem o clamor da população, eles não “entendam” que as mudanças estão chegando e não alcancem o “recado” deixado por Clarice Lispector, que, embora de origem judia e nascida na Ucrânia, foi uma importante escritora brasileira do Século XX. É dela uma frase que simboliza a existência desses bandidos que, com todo respeito aos macacos, ficam pulando de galho em galho a cada eleição:
           
 “O QUE É VERDADEIRAMENTE IMORAL É TER DESISTIDO DE VOCÊ MESMO.”
   
*Marco ALBANEZ
É advogado (OAB-PE nº 7.658) e jornalista (AIP nº 2.163 e DRT/PE nº 3.271)


6 comentários:

  1. Obrigado pela distinção sempre.
    Parabéns. Direto e pertinente, além de escrever muito bem.... Do jeito que eu gosto de ler pelo estilo e pela verdade do alegada ao tema.
    Abração

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  2. Prezado Marco.
    Satisfação enorme em ler seus artigos, tão sabiamente escritos. Nunca, jamais e em tempo algum, deixarão de existir os aproveitadores, seja em quaisquer setor, muito menos na política, aí sim, é onde encontram-se os verdadeiros salafrarios..., como bem dizes, mestres em matéria de corrupção e de se aproveitarem em proveito próprio para mudança de partidos em cima das eleições, com a finalidade de locupletar-se do que melhor lhe convier. Esperamos amigo, que cenas como essas abordadas não venham a se repetir no nosso tão sofrido município. Precisamos fazer nossa parte, fazendo a mudança necessária.
    Forte abraço.
    Anselmo Gouveia.

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  3. Grande Marcos,

    O eleitor, creio, apenas repete o que vê ocorrer no dia a dia do País.
    Por mais que se mude, fica tudo como sempre foi, e, quanto mais se muda, piora a situação, até porque,
    a realidade tem provado que o honesto e bem intencionado de hoje, será o ladrão de amanhã.
    O eleitor por ignorância, vícios eleitorais ou até desinteresse, tende efetivamente a votar em
    quem conhece, ou que tenha algum “recall” eleitoral, já que, mudar as coisas neste país, é
    muito difícil, pior ainda se for para melhor.
    Mas, quem sabe, com muita insistência e sarrafo, um dia se consegue.
    Abraço
    Fernando

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  4. Caro Dr. Marco Albanez, seu artigo está bastante contundente, claro, objetivo. A verdadeira realidade da política praticada atualmente !

    abraço,

    Billy

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  5. Parabéns pelo artigo. Excelente conteúdo e eu bem sei como funciona tudo isso, pois vivo no meio de um foco de insetos (como você diz). Acho difícil mudar, mas acredito,

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  6. Olha Marco, vim saber a semana passada da existência do Blog e que você escrevia para ele. Foi Lenilson Motta quem me disse (espero que ainda se lembre dele). O Blog é organizado e seu artigo espelha a realidade nua e crua. Você deu show no conteúdo. Quanto a qualidade do seu artigo, bem escrito e de leitura leve, não me surpreende, pois desde os tempos da faculdade já eras bom nos trabalhos de equipe e nas matérias do Diario de Pernambuco. Parabéns. Vamos ficar mantendo contato (ja´sabes onde estou residindo e sabes o número do meu cel). Abílio da Silva Torres.

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